Quando o Presente critica o Passado
Quem chegou primeiro: o trilho do trem ou a cidade? Eis aí uma discussão atual quando as pessoas reclamam do barulho do trem que passa quase dentro do quintal de suas casas ou quando a pesada composição ferroviária colide com um veículo que está transpondo os trilhos, cuja culpa sempre é atribuída ao condutor da máquina. Motivo da divergência nasce do fato das autoridades permitirem que os trens continuem circulando dentro da área urbana. Ora, mas quem chegou primeiro?
Evidente que os trilhos trouxeram o progresso e diminuíram as distâncias das cidades quando estas nem tinham construções próximas dos trilhos e da estação.A propósito lembrei de fato curioso que aconteceu na tradicional cidade da Lapa quando o prefeito municipal com intenção de querer expandir territorialmente e permitir as construções de novas moradias, resolveu postular a transferência da estação férrea e os trilhos para um local ermo, distante do centro.
Como sou filho de lapiana e quase nasci naquela localidade onde meus saudosos pais moravam, lembro que na minha adolescência quando participava da procissão de São Benedito minha família ficava hospedada no “Hotel Zappa” que ficava defronte à estação férrea, há poucas quadras da rua principal da cidade. E anos depois como Promotor de Justiça Substituto da referida Comarca (1.968) já não mais existia o hotel referido e nem a estação férrea que estava localizada há uns três quilômetros do perímetro urbano. E a brincadeira que faziam era que a estação ficou tão longe, mas tão longe, que a cidade não conseguiu mais abraçá-la. Exageram na dose de otimismo do progresso lapiano.
Mas em Curitiba e outras cidades que não tiveram a ousadia e nem a visão progressista de retirar a estação e os trilhos dos locais mais habitados, sempre o tema da mudança da estação férrea está em voga. Esta é a disputa do ontem com o hoje -, pois o progresso exige celeridade, mobilidade e tranquilidade aos seus moradores. E o trem e o trilho são empecilhos que exigem pronta solução. Sinceramente não sei como este embate irá terminar. De outro viés, existe também, questões que estão do lado inverso da moeda, ou seja, quando a população se insurge contra uma obra do estado pelo estigma de que ela atrasará o progresso da região. Exemplifico citando a construção de uma Penitenciária dentro dos limites urbanos de uma cidade, quando as lideranças locais se opõem veementemente com receio de que ela possa atrair coisas negativas e perigosas para o município.
Quando fui Secretário de Estado da Justiça elegi, por ser estratégico à política prisional, construir uma Penitenciária fr Segurança Máxima na cidade de Cascavel. Óbvio que uma prisão de porte precisa ser construída em local de fácil acesso e próximo da cidade para não onerar o Cofre Público e facilitar que os funcionários não tenham dificuldades no ir e vir de suas residências ao local de trabalho. A sociedade cascavelense se opôs ferrenhamente e eu tive de participar de inúmeras reuniões com intuito de puro convencimento. Depois de longa tratativas consegui a concordância necessária e a penitenciária foi construída em área isolada. Hoje ela está rodeada de residências e estabelecimentos comerciais constituindo num bairro novo com vida própria. Duas situações opostas porque o trilho atrapalha e a grade oferece segurança e atrai o progresso. Pensei nestas curiosas situações para servir de mote nesta crônica domingueira a fim de confrontar o Inconformismo das pessoas. É claro que é difícil agradar gregos e troianos ao mesmo tempo, por isto a sociedade moderna está dividida, rançosa, violenta e cada vez mais desumana…
“Enquanto alguns toleram a própria sorte outros se insurgem tendo tudo favorável.O lixo para alguns é luxo e o luxo para outros é luxo. O trem atrapalha e a Prisão não. Difícil entender o gênero humano.”
Edson Vidal Pinto