A Verdade de Cada Um
A população de rua cresce a olhos vistos e deixam a cidade com aspecto cinza; pois sob as marquises de edifícios moram andarilhos sem rumo e sem sonhos. E com o frio de Curitiba legião de pessoas de bem levam comida quente e cobertores para entregar aos desconhecidos -, mas quem são eles mesmo ?
Seus rostos são estranhos e com certeza vieram de vários lugares e se encontraram sem combinar numa praça ou calçada e resolveram se reunir para dividir seus infortúnios. A maioria com um cão mais amigo e leal do que o conhecido com quem vai dividir o espaço escolhido ao acaso para dormir. Fico imaginando como seria suas histórias de vida, seus amores, sua infância, a família e as frustrações que os levaram a lugar nenhum. Homens e mulheres que vivem por viver porque sem objetivo a vida deixa de ter sentido.
Seriam todos eles fracassados porque desistiram de lutar ou excluídos porque não tiveram oportunidade ou se tiveram não souberam aproveitar ? Esta incógnita não tem resposta porque quando perguntado eles evitam responder, cada um esconde dentro de si a sua própria história. Mas são agradecidos quando recebem ajuda e atenção de alguém porque na humildade reconhecem quem lhes faz bem. Mas é difícil separar estas pessoas para saber se são vítimas das diferenças sociais, dos vilões que se entregam ao ócio. Estes são indivíduos que nada querem porque não tem vontade e vivem do suor alheio.
Talvez por isto as campanhas de agasalho do poder público ou de entidades privadas não encontram tanto eco perante o público, por não se saber ao certo quem é o destinatário do benefício. Quem passa pela rua e vê um sujeito mal vestido dividindo uma garrafa de aguardente com outros e depois encontra essa mesma turma deitada a noite em uma calçada, enrolado em cobertores, fica em dúvida se deve se aproximar para oferecer um pacote de pães ou destinar aquele mesmo pacote para um gari que há poucas quadras dali está realizando sua tarefa diária. Quem merece mais ? Será que esta avaliação tem alguma lógica para definir há quem se deve doar ? Quase sempre quando saio de carro deparo num semáforo na esquina seguinte onde moro, com um rapaz, aparentemente bem vestido, segurando um pedaço mal cortado de papelão onde está escrito : “Estou com fome!” Será mesmo verdade, penso eu com meus botões, por que ele não vai procurar emprego ? E daí surge a dúvida se dou ou não dinheiro e fico sem saber como agir.
E as mulheres que ficam estrategicamente nas esquinas com uma criança no colo pedindo esmola ? Faça calor, frio ou caia uma chuva leve elas estão sempre no mesmo lugar, na mesma hora, menos sábado e domingo. E por quê não nestes dias ? Não precisam comer e nem alimentar os filhos ? E cada dia que passa mais as cidades crescem e as populações nômades tomam mais os espaços públicos. E o Estado cada vez mais assistencialista destinando uma espécie da salário para quem não tem renda para sobreviver, quantias que aumentam há cada ano que passa. Peso morto ou falta de política pública para estancar o aumento demográfico ?
Na medida em que a tecnologia mais avança para servir os seres humanos as populações empobrecem, pois a falta de estrutura na educação compromete o futuro das pessoas que estão perdendo o senso de conhecimento, responsabilidade e dever. E pela maneira da onda que só cresce em uma maré de direção única vai chegar o momento em que a pobreza tomará conta das cidades. E daí ? A caridade se prestará como paliativo ou solução ou os excluídos vão ter que lutar para poder sobreviver? Eis aí a questão de fundo. Enquanto ainda dá é preciso fazer essa gente aprender a pescar o peixe para não morrer, por falta de não saber colocar a isca no anzol …
“Só fazer benemerência às pessoas necessitas sem exigir uma contrapartida não passa de assistencialismo desmedido. Ajudar emergencialmente é obrigação de todo cidadão; destinar esmola é contribuir com o ócio. O Estado não pode fazer assistencialismo com o dinheiro do contribuinte. É imperativo uma retribuição do beneficiário. Via de mão dupla”.
Edson Vidal Pinto