Sinal dos Tempos
A velocidade da pandemia do Coronavirus parece que acelerou o relógio do tempo porque só agora olhei com mais vagar a “folhinha” pendurada na parede e senti um friozinho correr pela espinha. Gente que susto, meu Deus do céu ! Daqui há pouco mais de quatro meses estaremos no novo ano, porém se olharmos para trás vamos constatar que perdemos este e o ano anterior de nossas vidas por termos sido subtraídos das coisas costumeireiras que fazíamos, pois ficamos enclausurados e fugindo da convivência social tão importante e indispensável à nossa felicidade . Juro que se o Papai Noel aparecer na minha frente para anunciar o natal vou dar um tiro para assustar, na esperança que ele corra de volta para o Polo Norte.
Pois parece que foi ontem que o coelhinho da Páscoa deu o ar da graça lá em casa pois até hoje estou sentindo na boca o gosto do chocolate amargo que comi; sendo cedo demais ouvir “Noite Feliz” em minha cabeça para me induzir a presentear. Pois ainda nem paguei minhas multas de trânsito por ter infringido a velocidade de 30 Km/h quando no documento infracional diz que eu estava dirigindo a 37 km/h; muito menos terminei de pagar o IPVA , o IPTU, o IR, nem os carnês de prestações disto, daquilo e daquele outro e de repente se o Velhinho do Natal der as caras ele vai se dar mal, estou avisando e quem avisa amigo é .
Mas sei que não adianta ameaçar porque o Natal vai chegar tão rápido quanto uma má notícia, por isto vou me prevenir para presentear àqueles que se acostumaram ganhar meus presente e não posso decepcionar ninguém. A lista de nomes que está escrita em uma folha de papel é grande mas desta vez vou cortar bem pela metade, democraticamente, sem ler e nem saber quem vai ficar de fora, por ser a forma magnânima de reduzir as despesas e não ficar com dor na consciência. E os presentes ? Ah, como estão caros. Mas decidi uniformizar para que o presente seja igual para todos diferenciando é claro pôr sexo e idade. Lembro que minha família ainda é normal. Para meu neto, sobrinho-neto e sobrinhos bisnetos : um barquinho feito no capricho com dobradura de papel; também um chapéu de papel igual ao do menininho cuja foto está estampada na lata de Toddy; e uma filmadora feita com caixa de sapato, recortada em forma de um retângulo bem no meio para servir de tela, para passar filminho feito de tiras com capa de gibi.
E para minhas netas, sobrinhas-netas e sobrinhas-bisnetas eu darei para cada uma delas um lápis de propaganda que vou retirar de minha preciosa coleção, como demonstração de carinho mas com muita dor no coração porque a coleção que tenho há quase sessenta anos vai ficar desfalcada. Mas tudo bem. Para minha amada esposa vou fazer uma surpresa : darei uma passagem aérea (usada) como símbolo da nossa próxima viagem, sem dizer para onde, nem quando. A culpa é da pandemia porque eu não tenho culpa nenhuma. Meus filhos que são adultos vão ganhar um par de meia cada para também lembrarem de como é chato ganhar meia, lenço e cueca.
E para minha nora amada eu vou presentear com uma declaração feita por instrumento público em que me comprometo solenemente que quando eu tiver de dar presente para alguém (aniversário, casamento, batizado, amigo secreto etc. etc) eu vou comprar todos eles na “Casa Glaser - Presentes Finos” de sua propriedade. E para os demais parentes e amigos vou agraciá-los com caixinhas de Ivermectina, mas embrulhadas em papel de seda e amarradas com fios dourados. E ponto final. Enfim, esta é a realidade do momento que atravessamos onde não temos tempo para quase nada porque ele foge no meio dos nossos dedos das mãos. Mas se o tempo é carrancudo só resta mesmo brincar e sorrir. Mas só vou reconsiderar em mudar minha lista de presentes se o tempo diminuir sua marcha forçada, a pandemia passar e a inflação baixar …
“Que o Natal venha devagar, quase parando, porque a Páscoa foi ontem e os chocolates ainda estão guardados. O tempo está passando rápido demais. Socorro, segurem o Papai Noel !”
Edson Vidal Pinto