Jonas, O Hipocondríaco
Continuo meditando sobre o golpe dos últimos acontecimentos políticos tentando entender sem acreditar em acordo de bastidores -, portanto como hoje é domingo resolvi escrever sobre o Jonas um amigo que literalmente vai parar no brejo. Conheci ele casualmente em uma festa de casamento e como convidados sentamos com outros casais ao redor de uma mesma mesa para o jantar das bodas.
Ninguém conhecia ninguém mas aos poucos fomos nos apresentando e minutos depois a conversa correu solta e animada. Menos o Jonas que falava pouco e dizia que tinha muita falta de ar despertando a curiosidade de todos. Lá pelas tantas um dos integrantes da mesa não aguentando mais a discrição quis saber qual o mal que afligia aquele homem sofrido :
- Infelizmente tenho um problema cardíaco muito grave e daí a falta de ar que está me aniquilando aos poucos… - disse o Jonas para que todos pudessem ouvir.
Seguiu-se um silêncio quase sepulcral e levou alguns minutos para a conversa retornar ao ritmo que estava, antes da “confissão” feita pelo Jonas. Nem as mulheres conseguiam conversar entre elas pois todas também estavam condoídas com a saúde do pobre homem. De repente um outro convidado perguntou qual o nome do médico cardiologista que o estava atendendo:
-Não tenho nenhum, não confio em nenhum médico ! Eu mesmo pesquisei por conta própria a minha falta de ar e sei que meu coração está chegando ao fim …
- E você toma medicamentos ? - perguntou aflita umas das mulheres.
- Sim senhora, ao todo dezesseis comprimidos quando levanto e outros dezesseis quando vou dormir. E no período intermediário tomo medicamentos para cefaleia, bronquite , pressão alta e rouquidão.
- E toma tudo isto sem nunca ter consultado um médico?
- Perfeitamente, por isto ainda estou vivo !
Claro que todos os demais integrantes da mesa se entreolharam um tanto desconfiados mas ninguém ousou discordar do Jonas. E este já que estava com a corda toda prosseguiu :
- Compro tanto medicamento que os armários de minha casa estão mais cheios do que a “Droga Raia” ou qualquer outra farmácia.
- E quanto custa tudo isto por mês ?
- Meu amigo uma nota preta, bem preta …
E a partir da abertura dada ao tema o Jonas dominou a conversa, discorreu sobre a bula de cada medicamento que faz uso,inclusive, receitou outros tantos para uma das senhoras que dizia sofrer de ansiedade. E assim a conversa não destoou mais desta pauta e a motivação da festa foi substituída pelas ladainhas da enfermidade do Jonas. A conversa foi tão insossa e preocupante que após o término da festa cheguei em casa tenso e com dor de cabeça. Minha mulher me deu um comprimido de não sei o quê para melhorar.
E melhorei. Fiquei então pensando no Jonas e nas suas conversas medicamentosas e conclui num segundo que ele era o protótipo máximo da hipocondria. Um falastrão doente da cabeça que acreditava ter uma enfermidade terminal. Senti pena mesmo sabendo que ele não Iria morrer , mas com certeza pelo preço inflacionado dos medicamentos ele brevemente estará falido…
“É engraçado em festa de casamento quando os casais que não se conhecem e se encontram casualmente para sentar em uma mesma mesa. No início uma timidez natural em que as pessoas “estudam” umas às outras sobre o que conversar. Logo a conversa flui. E as vezes nem sempre o assunto é é prazeiroso.”
Edson Vidal Pinto