Sua Excelência o Pimentão

Com a inflação correndo solta e sem o Paulo Guedes dizer nada, nem um pio como se fosse um pardal mudo, fui obrigado a fazer compras no “Supermercado Festval” do meu bairro Champagnat do Barigui, porque sugeri à minha mulher que eu queria comer “aquele” Yakisoba e ela me lembrou que só não tinha o pimentão em casa. 

Quem conhece um pouco de culinária japonesa sabe o quão importante é o pimentão verde e o vermelho para colorir e dar sabor no cardápio escolhido. E eu gosto de pimentão no Yaksoba.  Como sou um marido exemplar e fazia muito tempo que não ia ao Supermercado resolvi  fazer a compra sozinho. Fui e voltei para casa em menos de cinco minutos. 

Minha mulher nem me viu chegar. Entrei no quarto, abri o guarda-roupa, vi meu smoking impecavelmente envolto num protetor de plástico, tirei ele do cabide e com um pouco de dificuldade consegui vesti-lo, apesar de minha protuberância “estomacal” (barriga saliente). Olhei no espelho, ajeitei a gravata borboleta, coloquei o paletó e quando estava absorto procurando numa ou noutra gaveta uma peça importante do traje fui surpreendido com a presença de minha esposa que ficou atônita quando me viu:

- Ué, o que você vai fazer vestido de smoking ?

- Vou voltar ao supermercado …

Ela ficou sem reação e eu lhe perguntei :

- Meu bem você sabe onde estão minhas luvas brancas ?

- Luvas ?! Para quê ?!!

- Para voltar ao supermercado pois quando fui lá e li na tabuleta dos vegetais que o quilo do pimentão custava R$ 15,00, vim vestir meu smoking para poder fazer a compra.

Minha mulher deu risada enquanto eu procurava explicar:

- Acho que o pimentão foi promovido com um título de realeza para custar tão caro, por isto quero estar bem vestido para poder comprá-lo para que ele não pense que vai parar na cozinha de qualquer vassalo …

- E as luvas brancas ?

- Ora, meu benzinho, como ele está custando quase o preço de uma joia só posso pega-lo para por no pacote com uma luva para não arranhar a sua delicada casca …

Minha menina ponderou que era um exagero o que eu estava pretendo fazer mas não conseguiu me convencer. Minutos depois eu estava dentro do supermercado vestido de smoking e luvas brancas, empurrando carrinho entre as prateleiras e antes de chegar nos pimentões estava lendo os preços dos demais produtos : um caso de polícia ! E o mais interessante de tudo foi ver outros homens de smoking e mulheres de vestido longo que também estavam fazendo compras, foi quando fiquei mais a vontade. Não era só eu que estava num lugar que vendia qualquer coisa custando o olho da cara. Não mesmo. 

Acho que o dragão da antiga inflação acordou de vez e está colocando em polvorosa a população brasileira. Depois de ficar na frente da banca dos pimentões  fazendo cálculos e tirando a prova dos nove, pensei seriamente se queria ou não comer um yakisoba genuíno por isto resolvi optar por um bom prato de massa com um peixe de primeira. 

Não foi tão mais barato mas pelo menos não fez um rombo no meu bolso. Sai do supermercado e jurei comigo mesmo que nunca mais vou comprar um só pimentão na minha vida, no trajeto até minha casa me convenci que nem gosto mais de pimentão e muito menos de suas cores. Em minha casa tirei meu smoking, acondicionei no cabide coberto por uma capa plástica e pendurei o traje no guarda-roupa. Daí lembrei que iria usá-lo no dia seguinte para comprar no açougue 50 grs. de filé mignon para fazer um “picadinho metido a besta” (sem champignon), para um compadre e seus dois filhos que havia prometido jantar comigo amanhã a noite. 

Entreguei as compras que eu fiz para a minha mulher e fui descansar nos braços de minha poltrona preferida. Depois de um bom cochilo ela me chamou para almoçar. Sentei na mesa e saboreei “aquele” Miojo com sardinha, esta tirada de uma latinha novinha em folha, sem ferrugem e nem nada …

“ Seu Guedes, seu Guedes. O custo de vida está aos poucos “comendo” pelas tabelas o salário dos empregado. Abra os olhos porque estando os salários congelados e faltando comida na mesa, o governo federal será o único responsável .”

Edson Vidal Pinto