Edson Vidal

O Dia do Dia

A criatividade do comércio e dos políticos está deixando atordoado as pessoas por não conseguirem acompanhar se o dia que nasce é ou não para festejar alguém, alguma data ou alguma coisa. Calma que vou explicar.

Ontem por exemplo foi o “dia dos filhos” , na semana passada foi o “dia dos amigos” e há quinze dias atrás foi o “dia do Canário da Terra”. As vezes fico me perguntando quem inventa estas datas comemorativas pois com certeza tem uma mente em efervescência. E tem dia para tudo basta conferir naquelas antigas folhinhas (calendários) de pendurar na parede, com um Santo ou Santa em tamanho maior ficando em destaque para a visita enxergar. Os políticos inventaram o “dia da consciência negra” e muitos queriam que fosse feriado nacional e só não foi por pouco, embora muitos governadores decretem “ponto facultativo” para só os servidores públicos comemorarem a data. Pasmem que também tem o “dia da sogra” , “dia do vizinho”, “dia do comedor de pizza” e “dia do Jogador de Botão”. 

Mas bom mesmo  foi a época em que existia apenas o “dia das crianças”, “dia dos namorados” e “dia das mães”. Datas esperadas e festejadas por todos com presentes e muitas flores. No “dia dos namorados” a Rádio Independência colocava seus repórteres nas ruas para entrevistar casais de enamorados,  que falavam sobre o amor e pediam música para dedicar ao amor de suas vidas. No “dia da criança” as rádios tocavam músicas infantis e não faltava a melhor delas cantada por Francisco Alves que dizia : “criança feliz, feliz a cantar, alegre embalar seu sonho infantil, Óh meu bom Jesus que a todos conduz, olhai as crianças do nosso Brasil”. 

As crianças vibravam com o seu dia e os adultos faziam questão de comemorar a data com os filhos, netos e sobrinhos agitando o comércio com compras de brinquedos, roupas e guloseimas. E o “dia das Mães” então ? A festa começava desde cedo quando os filhos pequenos presenteavam a mãe com um cartão de cartolina decorado com um coração da cor vermelha, feito de qualquer jeito no Jardim de Infância ou no Grupo Escolar, onde estava escrito a lápis com caligrafia sofrível : “ Mamãe, eu te amo!”. Suficiente para a genitora abraçar e beijar seu filho ou filha com a maior ternura do mundo.


Hoje, tudo é diferente, todo dia é dia para comemorar alguma coisa e ninguém mais tem tempo para comemorar tudo que consta da “agenda”. Além das três datas tradicionais e importantes que mencionei, também cultivo o hábito de comemorar o “dia de São Jorge” (sem saber se ele é ou não Santo) porque também é  o “dia dos Escoteiros” (do qual São Jorge é o Padroeiro); pois quem foi Escoteiro sempre será Escoteiro …

“Santo Deus todo o dia é dia para comemorar alguma coisa -, é dia disto, dia daquilo ou dia daquele outro. Pô, quem será que “cria” todas estas datas para festejar todos os dias? Com certeza deve ser um chato que não tem nada mais importante para fazer na vida.”

Edson Vidal Pinto

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