Pobre Funcionário Público Pobre
O funcionário público (in gênero) terá que amargar períodos difíceis e incertos : primeiro porque a inflação de dois dígitos chegou de mansinho e pelo jeito para ficar; e segundo porque aumento de salário no próximo ano nem pensar. Por causa da pandemia da Covid e em virtude das verbas federais alocadas aos estados e municípios foi editada a Lei Complementar 173/2020 proibindo aumento ou reajuste de salário do funcionalismo público em geral.
Evidente que os governadores e prefeitos ficaram satisfeitos e aliviados para poderem gerir seus orçamentos sem a preocupação de comprometer nenhuma parte dele com seus servidores. Óbvio que a categoria está empobrecendo pois sem ao menos a reposição do percentual correspondente a desvalorização da moeda e a inflação, o salário míngua a cada dia que passa. No Paraná a Lei de Diretrizes Orçamentárias para o próximo ano não contemplou nem um mísero real que possa ser acrescentado no bolso dos funcionários.
Tempos de vacas magras no reino de faraós milionários. Pois quem tem cargos em comissão e cartão corporativo com certeza pode viajar para Dubai e desfrutar o lado bom do Poder. E pensar que ter emprego no Ofício Público representava segurança e uma vida modesta mas sem sobressaltos. A propósito lembrei de uma fábula que Lincoln contava aos seus assessores diretos na presidência americana, para acabar com o assédio que sofria dos mesmos sempre procurando obter emprego público para seus afilhados. Vou sintetizar o conto dentro do possível. O Rei pretendeu caçar num final de semana e para isto chamou o Primeiro Ministro, o homem mais sábio e culto da Corte, e lhe perguntou :
- Vai chover no final de semana ?
O Primeiro Ministro pediu licença e foi olhar as poucas nuvens do céu e avaliar a velocidade do vento. Depois fez alguns cálculos num papel e voltou para respondeu ao Rei :
- Não irá chover, Majestade !
E assim, no final de semana, o Rei reuniu seus soldados e a nobreza para caçar na floresta. Antes da comitiva entrar na mata o Rei viu um velho, mal vestido, segurando um burro no cabresto e quando se aproximou ouviu o velho dizer:
- Não entre na mata, Majestade …
- Por quê ? - quis saber o Rei.
- Porquê vem uma terrível tempestade !!
O sol estava brilhando e no céu não tinha uma única nuvem. O Rei e seus convidados riram do pobre velho e se embrenharam na mata. Uma hora depois começou chover a cântaros molhando a comitiva até os ossos. Irado o Rei voltou ao castelo demitiu o Primeiro Ministro e mandou chamar o pobre velho. Quando este chegou assustado na presença do Rei este lhe perguntou:
- Velho, como sabia que naquele fim de semana iria chover ? Pois nem o meu Primeiro Ministro, o homem mais inteligente do meu reino, não sabia?
- Não fui eu, Majestade. Foi o meu burro que sabia. - respondeu o velho - Pois quando a umidade do ar anuncia chuva ele sacode o rabo e eu fico sabendo que vai chover…
Daí o Rei nomeou o burro como Primeiro Ministro.
Moral da história : desde então todo burro aspira um lugar no Ofício Público. Daí então seus assessores nunca mais pediram emprego para seus protegidos. Pois, é, a fábula parece que cai bem nos dias atuais porque do jeito que os funcionários públicos estão sendo desconsiderados e desprestigiado pelos governantes não deixa de ser uma burrice trabalhar trinta, quarenta e mais anos no Ofício Público e não merecer um pingo de respeito e consideração. E depois de aposentado ganhar menos do que um colega da ativa pelos penduricalhos que estes recebem sem olhar o próprio futuro …
“O governador do Paraná - um chamado novo milionário - não sabe respeitar e nem valorizar os servidores públicos que lhe são subordinados. E mesmo assim o indicativo é que o Orçamento está no patamar mínimo . E quando tiver que repor a perda salarial de seus servidores ? Com certeza será um percentual irrisório, como se o funcionalismo sobreviesse comendo ar.”
Édson Vidal Pinto