Cuidado Para Não Cair
Por muitos anos mordi minha língua quando nas palestras e aulas que proferi sempre procurava um meio de encaixar uma advertência para quem me ouvia dizendo que “entrar na política é conhecer em vida o próprio inferno”, desestimulando àqueles que ensaiavam dar o primeiro passo dentro dela. Não sei se minha viseira profissional me induzia que eu estava dizendo a verdade, pois como Promotor de Justiça e depois Juiz, havia proibição constitucional que impedia a prática de política partidária e proibição de ser candidato a cargo eletivo.
E hoje reconheço que laborei em grosseiro erro. É óbvio que os estados, os municípios e o país são administrados por políticos partidários eleitos pelo sufrágio popular, logo sempre esteve evidente que para mudar o ranço da política e moralizar a vida pública só mesmo com muitos concorrendo nas eleições e oportunizando opção de escolha ao eleitor. Sem renovação de nomes o caldo político permanece sempre com os mesmos figurantes e com o passar do tempo fica sujo demais e cheira mal.
Não sei como custei a entender esta realidade e por isto incentivo os mais jovens a ingressarem na política sem medo e com destemor se estiverem dispostos a ajudar o Brasil. É preciso ocupar espaços e alijar manhosas raposas da órbita do Poder. Mas a condição de ingresso na política não permite que o neófito se apresente com a roupagem confeccionada por velhos politiqueiros e muito menos que omita, por puro interesse, quem deveria também ouvir seu primeiro discurso no palanque do partido.
E nem cuspir no prato que comeu. Claro que estou me referindo ao Sérgio Moro um moço inteligente e preparado que ontem se filou ao Partido Podemos, mas ao que parece, não assimilou muito bem o novo papel que o grande eleitorado espera como nome plausível para a próxima eleição. A pompa adredemente preparada pelos seus colegas de partido foi apenas para sua filiação e não para apresentá-lo como candidato oficial para concorrer um cargo determinado, portanto, deveria marcar posição para dizer porque estava ingressando na política e desfazer as maliciosas insinuações feitas pelo Gilmar de que usou a Toga para se tornar político. E, claro, marcar pontualmente os problemas da vida pública brasileira e apresentar para cada tema solução viável suficiente para alinhar o seu futuro eleitor.
Poderia para não ficar em cima do muro tecer criticar genéricas sobre o atual governo sem se ater exclusivamente a figura de seu mandatário para não transparecer revanchismo pessoal. Este embate deveria ficar reservado para momento oportuno e quando delineado o palco da disputa que pretenderá concorrer. Mas como atacou o Bolsonaro e se apresentou como paladino de uma nova Ordem para combater implacavelmente à corrupção no país deveria ter criticado no mesmo tom e ênfase o STF, pois foi esta Corte de Justiça que sepultou a Lava Jato, absolveu atos de corrupção e está aguardando a hora e a vez de punir seus protagonistas. Seu silêncio escondeu sua coragem e gerou dúvidas se está suficientemente apto para enfrentar os desafios da vida pública e seus embates políticos.
Escrevi dias atrás que deverá ter cautela e escolher o cargo certo para se candidatar a fim de não dar um passo maior do que a pena e continuar no final do pleito na rua da amargura. Nenhum dos três senadores que o convenceram a se filiar no mesmo partido vão lhe sustentar politicamente caso as urnas lhe sejam madrasta , porque na política não vinga o lema dos “Mosqueteiros” e sim : “Cada um por si e Deus por todos”. E saber caminhar com as próprias pernas é condição indispensável para qualquer jovem político alçar grandes voos, lembrando que para escalar o Everest é preciso primeiro tentar subir o “nosso” Pico do Marumby …
“Insisto que falta para o Sérgio Moro um amigo que ele confie e que possa lhe orientar a dar os primeiros passos na política. Velhas raposas servem para abrir portas e fomentar embates, nada mais. A lealdade de um amigo se presta para abrir os olhos e mostrar o bom caminho.”
Édson Vidal Pinto