Um Ator Muito Feio
Uma condição para o homem ou a mulher trabalhar como ator ou atriz principal em qualquer filme ou novela de TV é a beleza física, tanto no corpo como no rosto, regra também exigida para figurar em propagandas comerciais. A falta destes dotes visuais que são essenciais levam às pessoas a serem coadjuvantes ou quando muito amigos mais próximos e confidentes dos atores principais.
A beleza sempre abre portas e propicia melhores atenções em qualquer ocasião. Daí não é impróprio dizer que ser pobre e feio é fórmula mais próxima para o fracasso. Salvo exceções. Mas também existe uma outra verdade de que quem ama o feio bonito lhe parece, por isto o amor é cego. E ao fazer esta introdução lembrei com muita nostalgia de um grande ator francês que fez sucesso no cinema nos anos quarenta e cinquenta do século passado, chamado apenas de Fernandel e era um homem alto, magro e seu rosto não tinha nada de bonito. Nem o nariz e muito menos os dentes.
Mas era um senhor artista que fazia da expressão facial uma maneira única de se expressar na arte de sorrir e de chorar. Ele cativou com este seu jeitão de pessoa simples um grande número de fãs quando estrelou uma série de filmes em que protagonizou a figura de um padre chamado de Dom Camilo, pároco de uma pequena cidade do interior da França. O ponto alto e de humor refinado estava nos diálogos que ele mantinha com o seu melhor amigo que era o prefeito da cidade de nome Dom Pepone.
Tudo bem se este não fosse um político e comunista declaradamente ateu. Em cada filme ao tempo em que eram amigos de verdade sempre surgia o abismo intransponível entre a religião de um lado e a ideologia Marxista do outro, suficientes para um enredo jocoso que fazia o publico vibrar com o embate que ambos travam no campo de suas divergências sem no entanto perderem a ternura da amizade na hora de jogarem xadrez juntos ou tomarem um bom vinho no bar do vilarejo. Fernandel foi um ator de tanto talento que sua feiúra de cara de cavalo passava desapercebida daqueles que assistiam seus filmes. Pena que suas fitas de cinema não passam hoje em dia no cinema ou ou TV , pois serviriam para uma profunda meditação e lições de tolerância. Pois eram homens que acreditavam em coisas diferentes, um com uma espiritualidade transbordante e uma fé sem tropeços; e o outro um idealista de um mundo imaginário e ateu convicto.
Mas sempre se suportaram e nunca abdicaram de suas amizades e do amor por seu país. Bem diferente do que acontece hoje em dia em que famílias e amigos se separaram por causa das diferenças ideológicas, divididos pelo ódio e por pensarem de maneira diferente sobre o futuro do Brasil. Este em resumo a triste história do “nós” e “eles” que tem separado o povo brasileiro e disseminado a guerra entre classes sociais. E até a Igreja do Dom Camilo ao invés de mediar as diferenças age estranhamente em favor de um só lado atiçando ainda mais esta divisão. Com certeza os bispos e padres nunca assistiram os filmes do Fernandel no papel de um exemplar Pastor de Almas, por isto não aprenderam a virtude de amar seus irmãos. Acho uma pena, uma grande pena …
“Divergir no campo das idéias é bem diferente de querer destruir uma democracia para erigir uma sociedade de mentira. A intolerância é o mal de todas as desgraças. Nação dividida é presa para ser subjugada!”
Édson Vidal Pinto