Edson Vidal

O Corretor de Seguros

O país vive um início de ano cheio de altos  e baixos, a bem da verdade, com mais declives do que aclives. Topograficamente falando. Além de um desgoverno federal também é a época de gastar todo o 13o. salário pagando tributos de todas as maneiras e formas que os economistas do estado inventam para cobrar dos contribuintes: IPTU com todas as demais quinquilharias imbuídas (lixo, preservação de ruas, iluminação pública); IPVA e Seguro Obrigatório; daqui há poucos dias o IR; o aumento do aluguel residencial; matrícula dos filhos nas escolas particulares; aumento do salário minimo; pagamento de um gordo cartão de crédito pelas aquisições dos presentes de Natal e guloseimas da ceia do final de ano; e renovações de seguros do carro, casa, etc, etc, etc. Tudo mais do que suficiente para encher a cabeça de qualquer um, e pensar que o ano ainda poderá ser pior com a inflação em alta, com combustíveis mais caros e o dólar lá nas alturas. Todo o assalariado para manter a aparência  ri para não chorar, vai à praia custe o que custar. Dentro desta miscelânea de encargos me vi às voltas com um amigo do peito, que também é corretor de seguros e se dispôs a cotar os preços cobrados pelas diversas corretoras, porquê está nas vésperas de vencer o seguro do meu Fiat 147, cor  vermelho táxi, uma verdadeira joia  rara sobre quatro rodas. Claro que sabia que o preço será salgado e quase impagável, mas é o luxo para quem é proprietário de um “senhor” carro,  cobiçado por aqueles que entendem verdadeiramente de automóvel. Enquanto meu amigo fazia as cotações dos valores, apareceu do nada um outro amigo meu, o Tucides, que quis saber o que nós estávamos fazendo. Expliquei que meu outro amigo, o Pedrinho, era corretor e estava verificando os cotações dos valores do seguro para o meu carro. O Tucides ficou interessadíssimo :
- Ele faz seguro de tudo ? - perguntou.
- Tudo, tudinho. -respondi. 
Daí o Tucides  com expressão de alívio no rosto e demonstrando incontida alegria, dirigiu-se ao meu amigo corretor e falou:
- Seu Pedrinho, o senhor pode indagar  para as Companhias Seguradoras se alguma  pode fazer o seguro do meu saco ?
- Como ? - antecipei a resposta do meu amigo corretor, para saber do Tucides se ele estava falando a verdade. 
- Claro que estou falando a verdade : porque estou de saco cheio com tudo que vi, li e ouvi do que está acontecendo neste início de ano no país, com a conduta do Xandão e de um governo chefiado por um ladrão, que tenho medo de perder meu saco quando ele estourar ! 
O Pedrinho acostumado em ouvir coisas mais inusitadas de seus clientes, reclamações dos preços e revoltas pelas dificuldades de muitos segurados receberem os “prêmios” contratados na hora dos pagamentos dos sinistros, que deu um estrondosa risada. Eu me senti aliviado. Foi ele que respondeu:
- Tucides, na atual conjuntura sócio-econômica -moral se fosse possível “segurar” o saco das pessoas, eu seria um milionário !!!
Até eu acabei dando uma gostosa gargalhada. 
- Pois quem neste país não está com o saco cheio de tudo ? Principalmente da cara do Luiz Ignácio e sua turma do Apocalipse, dos noticiários da Rede Globo de Televisão e das arbitrariedades sem freios do Xandão ? - arriscou perguntar o Pedrinho.
- Todos os patriotas! - respondemos em coro eu e o Tucides.
- Mas o saco da paciência, é um pedúnculo abstrato que só vive na imaginação dos indivíduos, não podendo ser segurado. É uma pena, mas não pode. Pois não existe meio de se poder avaliar nem o tamanho, muito menos o peso e nem saber o tempo que ele vai estourar, ou se é que vai estourar. - garantiu o Pedrinho.
Explicação lógica de quem conhece como poucos a arte das Seguradoras. E a conversa ficou por isto mesmo, o Tucides se despediu e deixou o local;  enquanto o Pedrinho e eu acertamos a contratação do seguro do meu Fiat, 147. E depois que fiquei sozinho, pensei no que disse o Tucides e concluiu que ele é um gênio, pois quem tem saco e se ele for pequeno, sabe muito bem que ele não vai demorar para estourar…


“Feliz hoje em dia no Brasil é quem tem o saco do Jó -, pois nele cabe tudo e mais alguma coisa : cobras e lagartos. Pois ser paciente exige que se aguarde quatro anos do desgoverno do Luiz Ignácio e tenha que aturar o povinho que lhe aplaude, com um sorriso nos lábios. Uma maratona da paciência e motivo de tese para estudiosos da psiquiatria.”

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