Edson Vidal

Personagens da Advocacia Criminal.

Com o avanço da tecnologia que aperfeiçoou e sofisticou aparelhos que permitem detectar há distância e visualizar com nitidez uma pessoa, e também, gravar conversa por detrás das paredes, ninguém mais tem privacidade. O drone nas alturas mostra tudo e mais alguma coisa desnudando o que antes o curioso, sem a aparelhagem existente e acessível para quem tem dinheiro, nunca sonhou enxergar e ouvir. Ah, se o advogado criminalista dr. Mário Jorge, figura ímpar do  Tribunal  do Júri , se estivesse vivo para usar ditos aparelhos a fim de poder mostrar imagens gravadas nas sessões de julgamentos ao Conselho de Sentença, estaria muito mais realizado. Ele, no seu tempo, usava microfone de lapela para gravar conversas a fim de colher detalhes sobre fatos que pudesse favorecer o seu trabalho na defesa do cliente; bem como, uma mini câmera de filmagem para captar cenas que pudessem servir de roteiro e construir, assim, a tese motivadora do crime. E quando conseguia reproduzir toda história, muitas vezes, projetava a mesma na tela para que os jurados pudessem se situar no lugar do acontecido e na situação do réu. Uma técnica sofisticada e um tanto policialesca, mas era a marca registrada de sua advocacia. E com esta maneira de atuar conseguiu absolver muitos acusados ou minorar suas penas. Ele foi um advogado respeitável, astuto, proficiente e pela sua maneira de ser deixou saudades. Os Promotores de Justiça quando tinham pela frente a figura do dr. Mário Jorge, sabiam de antemão que apesar de sua oratória rouca tinham que enfrentar um profissional combativo e muito bem preparado. Quando fui Promotor da Comarca da Lapa (1.971/72) recebi no meu gabinete o dr. Mário Jorge, que foi constituído por um réu para defendê-lo no Tribunal do Júri, quando então o conheci e nos tornamos amigos. Ele soube que um mês depois eu estaria assumindo a Promotoria da Comarca de Siqueira Campos, por isto, depois de andar pela cidade ele acabou pedindo o adiamento do Júri que estava  marcado para ocorrer dali quinze dias. Não fiz esse júri e por isto nunca “enfrentei” o renomado advogado no plenário, embora anos depois (1.980) tivesse tido com ele embates inesquecíveis em inúmeros processos na 1a. Vara Criminal de Curitiba, onde atuei por dez anos. E foi em um destes encontros de sala de ausência que ele me disse que pediu o adiamento daquele júri da Lapa, porque nas andanças pela cidade procurou especular como era o Promotor, seus hábitos e o conceito que gozava, a fim de poder explorar fatos negativos de seu oponente e favoráveis à defesa, mas como não encontrou nada desabonador optou em   esperar minha saída, a fim de fazer o júri com o novo Promotor não tão conhecido pelo povo lapeano. Era a maneira pelo qual avaliava seu adversário no Júri e tirava proveito da vulnerabilidades encontrada para desestabilizar o acusador. Pois não bastava só a retórica mas intimidar o Promotor para arrefecer o tom da acusação. Um outro advogado de invulgar brilho. Já contei em uma crônica pretérita que o único Júri que fiz em Curitiba, logo que cheguei vindo de promoção da  Comarca de Umuarama, foi de um processo que ficou adormecido 12 anos (em grau de recurso) nas mãos do desembargador-relator do feito, por isto pedi a absolvição do réu. O crime de homicídio que ele praticou tinha acontecido há 17 anos antes do referido julgamento, quando réu tinha 19 anos, e desde então, casou, constituiu família, era trabalhador e nunca mais delinquiu , portanto, o longo tempo decorrido entre o fato e o julgamento não era mais ato de Justiça mas de mera Vingança do Estado. Critiquei tanto a desídia do Tribunal de Justiça que nunca mais fui designado para atuar no Tribunal do Júri. Feri suscetibilidades. Pois, bem, só não contei que o advogado de defesa era o saudoso criminalista dr. Elio Narezi, um profissional combativo e, também, muito respeitado. O dr. Elio era um defensor temido pelo seu raciocínio rápido e arguto, com uma pronúncia meio de italiano tinha o sangue quente e atuava com muita firmeza. Claro que no Júri que fizemos ele ficou tão surpreso com o meu pedido de absolvição, não tão comum na época de acontecer num Júri, que nem pudemos debater porque não houve discordância nos nossos propósitos. O réu foi absolvido por unanimidade. Tenho boas recordações e saudades do dr. Elio, com quem me digladiei em muitos processos criminais que tramitaram não 1a. Vara Criminal. Contei estes episódios, por ser domingo, dia de descanso e de leitura amena, pois escrever sobre política e políticos num dia de ócio, é aborrecer os leitores que prestigiam minhas crônicas …


“Gosto lembrar de personagens do mundo jurídico Paranaense, para que sejam conhecidos pelos profissionais mais novos e reverenciados por suas biografias. Homens e mulheres que contribuíram com suas inteligências e trabalho, para escrever a fascinante história da difícil carreira da Advocacia. “

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.