Edson Vidal

Tucides, O Pinguim.

Ontem a noite no último dia de carnaval resolvi dar uma de folião e fui com minha mulher, esta  contrariada só foi comigo para me fazer companhia, assistir na  rua Marechal Deodoro o desfile de blocos e de fantasias. Eu sei que não deveria ir, mas acreditei que o impossível pudesse acontecer, e por isto poderia  me surpreender com as Escolas de Samba,  com ala das baianas , carros alegóricos luxuosos, baterias bem treinadas e sambistas famosos e  tudo o mais, agitando o curitibano cético, com cara de poucos amigos e só pensando em trabalhar no dia seguinte. Estava garoando e frio, e quando me aproximei do local ouvi apenas um batuque descompassado, com um grupo de umas quinze pessoas andando pela rua e não sambando, uma moça de calça jeans segurando um estandarte do CAP  e a arquibancada quase vazia. Minha mulher me olhou bem nos olhos e eu então me dei conta que havia entrado numa fria, o carnaval não era como o de São Paulo e muito menos do Rio de Janeiro. Mas como estava na “chuva”  ficar um pouco mais molhado não iria modificar muita coisa, ademais, poderia ser que o segundo bloco pudesse surpreender, afinal a esperança é a última que morre. Subimos na arquibancada de metal e não sentamos porque o banco estava molhado e frio. Meia-hora depois avistamos ao longe um novo bloco que se aproximava com um número bem maior de foliões, uns cinquenta ao todo, dez deles no batuque no ritmo do axé e os demais com fantasias diferentes uma das outras, dando um colorido de cores misturadas, mas ninguém sambava pois todos andavam no asfalto como se estivessem andando numa feira livre para comprar frutas e verduras. Com certeza estavam aborrecidos com os preços dos produtos. Com vontade de sair correndo e voltar para casa e assistir  o final do programa do “Faustão” ou do “Ratinho”, vi um “sambista” acenando as mãos em minha direção e depois de olhar o mesmo com mais atenção foi que me dei conta que era Tucides, fantasiado de pinguim. 
Apontei ele para a minha mulher e retribuímos o aceno, mas o Tucides deixou para trás o bloco, subiu na arquibancada para falar conosco:
- Oi, amigos! Estão gostando da folia?
- Não sabia que você era um folião de verdade. - respondi meio sem graça.
- E logo vestido de pinguim ? - disse minha mulher.
- Pois é, como o nosso clima é frio entrei nesta fantasia de pele branca, que é um tapete de pele de urso polar legítimo que eu tenho lá em casa, para  transformá-lo numa fantasia de pinguim, só a máscara é de papelão enrolado num plástico para não dissolver na chuva …
- Bem criativo … 
- Ah, de longe o “povão” da arquibancada nem consegue distinguir a pele lisa do pinguim com o grosso pelo do urso. - arrematou o Tucides.
Minha mulher deu uma risadinha e continuou olhando o bloco terminar de passar sem o meu amigo.
- Parabéns pela sua “animação” e vontade participar do carnaval de Curitiba … - falei.
- Na verdade estou aqui com segundas intenções, pois pensei em encontrar o nosso Prefeito e pedir para ele arrumar os buracos da rua onde eu moro .
- E ele não está presente ? 
- Não, ele só veio no desfile de sábado, que foi a abertura, e eu me dei mal …
- Que nada. Já que não foi possível o encontro com o Prefeito, pelo menos aproveite desfilar 
no bloco que está passando na outra quadra. - falei para consolar meu amigo.
- É eu vou , só que além de não ter encontrado o Rafael Greca, ainda vou amargar meu prejuízo…
- Por não ter podido falar com o Prefeito ? - perguntei.
- Não, por ter destruído o meu tapete branco …


“É o Tucides se deu mal em querer desfilar num bloco carnavalesco e ao mesmo tempo querer encontrar o Prefeito na arquibancada. O desfile foi uma tragicomédia e o Prefeito não compareceu. A única vantagem foi que o tapete de pele de urso que foi transformado em fantasia de pinguim, não fez o meu amigo sentir o frio gelado do verão curitibano.”

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.