Edson Vidal

Minha Última Crônica.

Chega um dia que o sonho acaba então é chegada a hora da despedida. E pensar que comecei a escrever minhas crônicas há 3.274 dias atrás, uma por dia, depois que li a biografia do grande acadêmico da ABL, consagrado jornalista e letrista de músicas Antônio Maria, que em toda a sua vida escreveu  2.500 crônicas, me motivando a querer quebrar o ser recorde, claro que não com igual brilho e nem com sua inigualável verve de consagrado escritor. Quando muito sou um literato pelo fato de gostar de escrever, nada mais. Ontem fui surpreendido por uma velho e querido irmão de Toga, Airton José Saldanha, que me telefonou para matar a saudades e no meio da conversa acabou me transmitindo uma notícia, que ele leu alhures, que me abateu muito e por isto decidi parar de escrever. Esta será minha última crônica. Há tempo o meu filho primogênito Luiz Gustavo, advogado militante, tem ponderado comigo para eu tomar cuidado com o que escrevo para não ser processado, pois por mais que minhas crônicas sejam verdadeiras, um dia alguém poderá se sentir moralmente ofendido e querer pleitear em Juízo alguma indenização pecuniária por danos morais. E muitos amigos tem idêntica preocupação. Todavia nunca dei ouvidos para isto, vez que só escrevo o que todo mundo sabe, não invento nenhum fato e nem imputo a ninguém nada que seja ofensa pessoal. Por exemplo : quando digo que o Luiz Ignácio é ladrão esta é uma verdade sabida e comprovada nos autos da Lava Jato; os modos ditatoriais do Xandão são visíveis quando ele acusa alguém, processa, julga e condena; e assim, com relação as demais pessoas que cito nominalmente sem nenhum temor. Porém meu amigo Saldanha me falou uma coisa que me desmontou. É por isto que não vou mais escrever nenhuma linha daqui em diante, nem carta e minha assinatura só se for digital. Pois estou apavorado. Os meus leitores devem estar divididos: os que se divertem com o que eu escrevo devem estar chateados; porém os da esquerda festiva devem estar vibrando com esta minha decisão. Pois não vou mais falar do Luiz Ignácio, o meu fetiche para alguns poucos. Estão curiosos para saber a notícia que fez tremer as minhas pernas ? Ok, vou transcrever telegráficamente, apenas na parte que interessa: “ Justiça bloqueia Ford Ka de Roberto Jefferson por ofensa à Moraes”. Claro que não preciso transcrever mais nada, pois o impacto da leitura, por si só, já justifica o meu medo. 
- Pô, meu amigo- interviu o Tucides aparecendo do nada.
- Pois ainda não entendi o porquê desse teu temor cinematográfico… 
- Não entendeu ? Você viu que o Juiz paulista decretou o bloqueio de um automóvel Ford Ka, ano 2.009, do ex-Presidente do PTB, para posterior leilão e pagamento de indenização de título moral ao Xandão !!!
- ?
- Pois o dito cujo ganhou uma indenização arbitrada em R$ 50.000,00, e o Jefferson vai acabar perdendo seu carro …
- E daí ? - quis saber o Tucides.
- Ora, meu amigo, já imaginou se eu tivesse sido condenado e fosse o meu Fiat 147 o objeto do bloqueio ? Como eu ficaria ? Sem meu espetacular e estupendo veículo que considero o melhor até hoje fabricado no mundo ?
- Não tinha pensado nisso …
- Pois é, eu  só não estaria arrasado, mas pobre de marré, marré e marré. - respondi.
- Então é por isto que você não vai mais escrever? Não quer perder o “carrão” ?
- Isto mesmo, que levem meus dedos, meus anéis mas meu Fiat 147, NÃO!
O Tucides viu minha revolta e se afastou da minha vista. Os leitores entenderam o porquê desta ser a minha derradeira crônica ? Não quero arriscar  nada, chega! Se algum pseudo ofendido quiser receber meu Fiat 147 a título de indenização que rebole muito, pois de mãos beijadas não vai ter mesmo . Principalmente comparando um veículo de baixíssimo nível como o Ka da Ford, com o Meu magnífico e invejável Fiat 147…

“Encerrei hoje meu ciclo de literato; por medo de perder meu Fiat 147. Doravante vou me dedicar às Palavras Cruzadas, jogo de Paciência e dominó.
Pelo menos enquanto o Xandão estiver na área.”

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