Nunca Me Aconteceu Antes.
E como diz o velho ditado : tem um dia que a araruta tem o seu dia de mingau. Juro que nunca isto tinha acontecido em minha vida, mas se aconteceu eu dou minha palavra que não vi. E foi ontem de tarde, na sala de espera do Setor de Emergência do Hospital Santa Cruz, quando levei minha mulher para consultar porque não estava se sentindo muito bem, graças a Deus não foi nada de grave. Chegamos no hall de atendimento e todas as cadeiras estavam ocupadas, foi quando uma senhora que estava sentada esperando a vez de ser atendida, me viu entrar e de pronto ofereceu-me a sua cadeira . Olhei espantado para os lados a fim de me certificar se o gesto de cortesia era para outra pessoa, mas, não, era para mim mesmo. Foi então que cai na real : sou um idoso! E me deu um frio na espinha. Não, não que eu seja jovem, em absoluto porque tenho senso do ridículo, mas até então eu achava que com 78 anos de idade ainda tinha algum viço de juventude. Que nada, a Lei da Gravidade tinha feito o seu devido estrago no meu corpo, foi o que eu senti quando vi a cadeira sendo desocupada. Evidente que não aceitei, agradeci o gesto de educação daquela bondosa mulher e lhe pedi que permanecesse sentada. Fiquei em pé. Em cinco minutos minhas pernas começaram a doer, as minhas costas também, e logo fiquei arrependido por não ter aceito a oferta daquela bendita cadeira. Mas aguentei firme , pensei : homem não chora. E eu, hein ? Estou me sentindo um idoso assumido coisa que até então nunca tinha pensado que isto pudesse e aconteceu comigo; eu via a carcaça dos meus amigos mais chegados desmoronando, barrigas saliente, quase carecas com cabelos brancos apenas nos lados da cabeça, rugas e pelancas nos braços e nunca falei nada porque eu achava que era exceção e não queria constranger ninguém. E agora ? Imagine que uma senhora quis me ceder o lugar ! Putz, aquele gesto destruiu meu único verniz que ainda dava brilho naquilo que eu achava que ainda eu não era velho. Cheguei em casa e disfarçadamente olhei no espelho com a esperança de encontrar no seu reflexo um esboço de meu rejuvenescimento; olhei de todos os lados e ângulos e concluí que só a minha mente era jovem, tudo o mais pedia peças de reposição . Minhas pálpebras, bochechas, braços e pernas não eram minhas, acho que meu corpo pegou emprestado de alguém, porque tudo era flácido e desconjuntado. Eu estava me sentindo uma mala sem alça, pronta para se aposentar. Arre, foi quando me lembrei que já estou aposentado, com 78 anos nas costas e uma senhora quis me ceder a cadeira onde estava sentada. Só estou em dúvida se sou um velhinho moço, mais para velho ou velhão; prefiro achar que sou um homem de idade avançada com muitos sonhos para ser sonhado, muitos objetivos para serem alcançados e com a esperança de poder encontrar muitos amigos para dividir histórias …
“Só não envelhece quem morre. E o idoso é jovem quando ninguém diz ou insinua que ele seja velho. A idade do idoso é contada pela vida que tem, pelo caminho que percorreu, pelos erros e acertos e sobretudo pelo rastro que deixou desde o dia em que nasceu.”