Edson Vidal

Um Dia Diferente.

Não aguento mais começar o primeiro dia útil da semana ouvindo a rádio BandNews elogiando os deputados federais porque aprovaram por ampla maioria a Reforma Tributária; muito menos abrir a plataforma eletrônica do jornal “Estado de São Paulo” e ler que o governo do Luiz Ignácio tem boa aprovação nos Institutos de Pesquisas; pois fico com a mente perturbada  e com vontade de dar um tiro n’agua. É claro que dar um tiro n’agua dói menos do que atirar no próprio pé. Tal o meu estado de espírito para enfrentar as tolices de um desgoverno e uma massa de políticos que só amam o próprio bolso. Daí , então, resolvi que vou viajar e esquecer dos problemas diários que nos afligem, pois ninguém é de ferro. Pelo menos eu não sou. Vesti minha melhor roupa de inverno, com um capuz de pele de urso que ganhei de um amigo que viajou pelas estepes russas, meia de lã , cachecol  e sentei na minha poltrona exclusiva, na frente da TV do escritório do meu apartamento, liguei o aparelho no canal YouTube e de imediato fui transportado de avião para o Nepal. Cheguei em Katmandu, a capital, e dali então 
voei até o aeroporto de Kucla, onde apenas vinte pilotos do mundo todo estão habilitados e autorizados a aterrizar suas aeronaves pela dificuldade do pouso. A localidade de Kucla está encravada na Cordilheira do Himalaia e por não existir área plana o aeroporto foi construído sobre uma montanha, onde está localizada a cidade, com uma pista muito curta que só permite pouso de aviões de médio porte. Senti um frio diferente do de Curitiba -, pois parecia que eu tinha entrado numa grande câmara frigorífica e quando respirava dentro dela os alvéolos dos meus pulmões grudavam como chicletes. Mas aguentei firme porque meu objetivo era escalar o Everest, uma montanha de 8.748 metros de altura, um pouquinho mais do que o “nosso” Pico do Marumby, situado na Serra do Mar. 
Montanha que escalei várias vezes quando fui escoteiro. Fiquei num hotel repleto de montanhistas vindo de todas as partes com a mesma intenção da minha, alcançar o pico da montanha mais alta do mundo. Logo me enturmei com um grupo de chineses, alpinistas profissionais, todos militares treinados para a escalada; falo muito pouco o mandarim e tive no início mil dificuldades para me fazer entender, porém , aos poucos parecia que estamos nos comunicando melhor porque quando eu falava ou eles falavam nos riamos juntos. Depois de quinze dias de muita conversa eles entenderam que eu queria acompanhá-los na escalada. Não gosto de subir um morro muito alto sozinho, porque tenho labirintite. E também porque não sei cozinhar. Só não acabei acompanhando os chineses porque o guia deles me pediu uma contribuição de noventa mil dólares para as despesas da viagem, incluído o visto oficial para a subida. Achei muito caro, mas depois conversando com uma outra equipe de alpinistas portugueses estes me disseram que o valor pedido correspondia ao custo aproximado para a realização da escalada. Levando em conta que entre o trajeto de Kucla até a base do Everest, tempo de aclimatação de mais ou menos dois meses para subida, pagamento dos cherpas 
e a comida , o valor era o mesmo que todos pagavam. Então fiquei aterrorizado. É muito dinheiro para subir num morro que não tem elevador, sujeito a ter hemorragia cerebral na chamada “zona da morte”, quiçá perder a ponta do nariz, dedos dos pés e das mãos ou o risco de subir e nunca mais voltar. Pensei com meus botões : entre o risco de escalar o Everest e o de viver num país petista, parece melhor voltar para o Brasil. Troquei de imediato o canal do YouTube pelo da Globo, daí, aos poucos fui me despindo de minhas roupas de montanhista até ficar só de ceroula. Não vou viajar e nem fugir do Luiz Ignácio; vou permanecer onde estou e continuar a vidinha que Deus me deu. E o governo petista ? Como aguentar ? Afinal a semana que começou vai continuar com a mesmice crônica, com o Luiz Ignácio em alta, o Xandão mandando, o governo desgovernando e a inflação crescendo. Tudo de acordo com o figurino. E eu ? É claro que não vou dar um tiro n’agua, não mesmo, vou dar um tiro no meu pé !
Por quê ? Para saber se estou mesmo acordado ou se estou no meio de um pesadelo, pois mesmo de olhos abertos ainda não acredito que o Luiz Ignácio seja ainda o “nosso” presidente …


“Não é fácil viver num paraíso petista onde o impossível acontece e a bizarrice se multiplica. É um susto diário ver a cara do Luiz Inácio, do Xandão, do Haddad, dos parlamentares e do MST desfilando nas telas dos canais de TV. Dá uma vontade louca de dar um tiro no pé , para poder acordar de um trágico pesadelo.”

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.