Vocês Querem Bacalhau?
Na crônica de ontem peguei pesado. Vou virar a página e escrever amenidades. É carnaval, gente! É só pular de canal em canal na TV que logo aparece um desfile. Se o Governo do Estado do Rio de Janeiro fosse tão organizado como diretoria de escolas de samba, a cidade voltaria a ser maravilhosa.
E quanta homenagem ao Abelardo Barbosa, o Chacrinha, ele foi festejado nos carnavais de São Paulo e do Rio, com a velhota RitaCadillac e suas chacretes. Ele foi um dos mais populares e grotescos apresentadores da televisão brasileira, mas fez história e mereceu ser reverenciado pelos foliões.
Na Marquês de Sapucaí, enquanto colocava minha fantasia para desfilar na Vila Isabel, que estava pronta para homenagear os oitenta anos de idade de seu filho mais ilustre, o Martinho da Vila, encontrei com o meu amigo carioca, o Oscar:
- E daí, garotão! - Foi ele que começou a conversa.
- Tudo bem e você?
- Melhor impossível. Pois Engatei uma conversa que vai dar o que falar...
- Com o Pesão?
- Nada, mano. Deus me livre, foi com a Sabrina Sato...
- E como foi?
- Ela caiu no meu papo, acho que depois do desfile nós vamos tomar um Chopp no Piscinão de Ramos...
- E ela topou?
- Não ainda, mas pelo jeito vai topar.
- Duvido!
- Sabe que inveja mata?
- Eu sabia que você era loroteiro, mas não mentiroso.
Mal tinha terminado a frase apareceu a Sabrina e falou para o Óscar:
- Meu bem, depois do desfile nós combinamos tudo, está bem?
Fiquei paralisado. Eu não estava acreditando o que estava acontecendo. Belisquei o meu braço e não doeu. Putz era verdade. A Sabrina iria marcar um encontro com o Oscar. Este me viu embaraçado e com ar de puro deboche, arrematou:
- Eu mentiroso? Bobão!
Em seguida se afastou. O mundo caiu em minha cabeça. Eu poderia acreditar em tudo, menos naquele encontro.
- Ops, amigo. Está pensando no que?
Desta vez quem falou comigo foi a Tereza, uma senhora de seus oitenta e tantos anos de idade, que eu conheci porque foi ela que costurou minha fantasia. Contei o que eu presenciara e do provável encontro do Oscar, que ela conhecia bem, e a Sabrina Sato.
A mulher primeiro deu uma gostosa gargalhada e depois falou:
- Não é nada disso, não. Eu vi o Oscar se oferecendo para ser jardineiro na casa da Japa e ela ficou de encontrá-lo após o desfile, para combinarem o preço. Miserável do Oscar, ele conseguiu me enganar muito bem. Vê lá se a Sabrina aceitaria ir com o Oscar bebericar ao lado do Piscinão do Ramos. Só pra minha cabeça mesmo.
E de repente olho mais para frente e vejo o Oscar de braços dados com a Juliana Paez, ambos sorrindo, de mãos dadas, deixando a Praça da Apoteose. Dei um beliscão mais forte no meu braço. E desta vez doeu.
Quando acordei estava dentro do auditório da TV Globo do Rio, no meio de uma plateia em delírio, e então pude ouvir a voz da Chacrinha gritando:
- Dona Joaquina; cuidado com sua filha na esquina!
Querem bacalhau?
E logo me bateu no rosto um pedaço enorme de bacalhau atirado pelo Velho Guerreiro. Como tudo isso aconteceu, não sei dizer e nem explicar. Juro que foi verdade. Se duvidam: perguntem para a Gleisi, pois acabei dando o dito bacalhau para ela...
Esta é só uma história que aconteceu no carnaval carioca, na cidade onde o impossível acontece, só o eleitor de lá não enxerga!...
“Carnaval sempre está repleto de verdades e mentiras. É difícil saber o que é fantasia e realidade.
Tem histórias e sonhos. Dependendo de quem conta, acredite sempre desconfiando!”
Edson Vidal Pinto