Meu Reino, Por um Litro!
Fermino disse que estava assistindo na TV a entrevista do Chefe da Casa Civil, sobre a crise dos caminhoneiros, quando um repórter perguntou:
- Ministro Padilha: resolvido o problema do diesel; como fica o preço do litro da gasolina?
- O preço é o mesmo que foi anunciado...
- Não vai baixar?
- Não! O movimento foi dos caminhoneiros e o governo só tratou do diesel, único produto que entrou na pauta das negociações.
Firmino então explodiu:
- Ninguém vai aguentar pagar o litro da gasolina quatro reais e sessenta centavos! Governo Ladrão!
Este é o outro lado da moeda de uma crise parcialmente vencida pelos caminhoneiros. Como o povo não parou, não bloqueou ruas e só saiu timidamente para apoiar o movimento, a gasolina ficou de fora da mesa de negociação e o brasileiro vai comer o pão que o diabo amassou. Engraçado que nas negociações participaram pessoas estranhas e sem representatividade, tidos posteriormente como infiltrados e com interesses escusos.
No entanto ninguém do povo se fez representar. O preço da gasolina foi mantido.
- De minha parte (disse o inconformado Firmino) eu vou esvaziar o tanque de minha moto e guardar a gasolina no cofre! Vou só andar a pé, de bicicleta e ônibus...
- Você é que é feliz! Eu levei a pior (sussurrou o Badanha). O tanque de gasolina do meu Fiat 147 tinha um pequeno furo e vazou, não tenho nem uma gota do precioso líquido! To ferrado.
Um amigo de ambos, o Durval, que ouvia a conversa, começou a chorar copiosamente:
- O que foi agora, Durval?
(Perguntou Firmino)
- Eu sim estou ferrado...
- Por quê? (quis saber o Badanha).
- Ha três dias atrás eu emprestei cinquenta litros de gasolina que meu amigo Plácido tinha estocado na sua empresa, e não sobrou nadinha de nada...
- E daí?
- Como vou pagar se o preço do litro da gasolina foi para a estratosfera? Estou falido. Com certeza terei que fazer um financiamento na Caixa Econômica Federal dando minha casa como garantia, para pagar em quinze anos a gasolina que emprestei.
Os outros dois amigos concordaram com um aceno de cabeça e ficaram condoídos com a situação do Durval. Foi daí que o Badanha teve uma ideia que achou genial:
- Durval, não se desespere. Vá falar com o Ministro Carlos Marun, homem sereno e polido, que ele poderá resolver o problema da sua dívida...
- Ele pode reduzir o preço da gasolina?
- Com certeza, não!
- Então o que ele poderá fazer?
- Dançar um belo sapateado na sua frente e cantarolar uma música de deboche.
- E eu?
- Você? Seu coração não vai aguentar e com certeza você nem vai mais se lembrar da dívida, porque vai morrer de raiva, por ser apenas povo...
Longe dali, numa cela do quarto andar da Superintendência da Polícia Federal da República de Curitiba, um grito desesperado era ouvido pelos moradores do bairro:
- Só não deixem faltar a “marvada”! Sem ela troco meu reino até por uma “delação premiada”!
O anjo Natanael, protetor dos condenados, que estava sentado sobre um colchão de nuvens ouviu a lamúria e suspirou:
- Pombas, coitado do companheiro.Ele é que está ferrado mesmo; Senhor, Todo Poderoso, imploro que não falte álcool em nenhuma bomba nos postos de combustíveis do bairro de Santa Cândida!! Pois não quero perder o conforto desta nuvem e nem o prazer de ver o dia a dia do Jararaca, de garganta seca, que só pode se contentar de sentir pelo ar o cheirinho que exala dos postos de combustíveis...
“Tem anjo bom e tem o anjo Natanael. Ele não é ruim e nem quer o pior para seus protegidos; só que é meio masoquista. Ele apoia os caminhoneiros mas torce que não falte álcool nos postos, onde tem pinguço preso, por perto”.
Edson Vidal Pinto