Edson Vidal

Médico de Homens.

A pior tarefa do ser masculino é consultar um médico. Não importa qual seja a especialidade a encrenca toda começa quando você chega à clínica e se apresenta perante uma simpática moçoila, atendente do médico, que sem lhe conhecer logo se torna íntima, chamando-o pelo primeiro nome:
- Jacó trouxe a carteirinha da Unimed, da Judicimed, da Promed ou do diabo que te carregue? 

Depois conferir toda a papelada  ela manda você esperar em uma sala. Aí começa a piorar o drama. Quando você entra é uma saleta apertada, com poltronas e mesinhas, você se acha uma barata tonta; se estiverem outras pessoas você olha de soslaio, conta quantas são, e calcula a eternidade de tempo que você vai permanecer confinado no local. Pior se tiver uma única paciente, jovem e bonita, você não sabe se cumprimenta pelo medo dela gritar achando que é assédio sexual.

E se estiverem outros homens o cumprimento pode ser entendido como gesto de “maricagem”. O melhor é não cumprimentar e sentar longe de tudo e de todos. A melhor posição é em estado “alfa”: permanecer mudo, cego e surdo.

Daí, em poucos segundos brota a impaciência, não porque as revistas cujas capas são exibidas nas diminutas mesinhas sejam de assuntos médicos que não interessam nem um pouco, ou as que ficam à disposição como a “Veja” ou “Isto” de edições dos meses anteriores, mas, principalmente o que deixa o paciente fulo da vida é que a consulta nunca acontece no horário marcado.

E o pior: a atendente sempre pede para as  “vítimas” de o esculápio chegar quinze minutos antes do horário. É pura sacanagem! A gente sabe que nunca é atendido no horário, mas sempre chega na hora determinada.

Pois bem, uma hora e meio depois de ficar confinada na salinha de espera a gentil atendente, que você tem vontade de pisar no dedão do pé, aparece na porta e diz em voz alta, olhando para as outras pessoas:
- Jacó, Jacó, pode entrar no consultório o “doutor” vai atende-lo!

E você todo sem jeito sai da sala como entrou: um farrapo humano, sem eira e nem beira, sem título de graduação, sem um tratamento respeitoso, sem nada. Você entra no consultório órfão de pai e de mãe:
- Jacó, hein? É a primeira vez? Você é árabe ou japonês? 
- Sou Parnanguara...
- Ah! Está sentindo o que?
- Dor na barriga, doutor.
- Você fuma, não?
- Não doutor, Jacó não fuma.
- Bebe com certeza, não é mesmo?
- Não, doutor, Jacó também não bebe.
- Mas come uma gordurinha gostosa, na costela assada e bem salgadinha?
- Jacó não gosta de costela.
- Então a dor na barriga é gases, nada que um Luftal não resolva, está bem?
- está.
- Eis a receita. Boa tarde!
- Obrigado, doutor.

Está tudo errado! Médico de homem deveria atender sempre a noite, não de dia, para não prejudicar o serviço do paciente. Não deveria ter consultório. Deveria atender com hora marcada em um bar, que servisse carne de tigre, quibe, romops, ovo cozido, bebidas em geral. O atendimento seria de mesa em mesa e ninguém iria se queixar pelo atraso. 

O seu atendente deveria ser um garçom, sempre prestativo e com o cardápio nas mãos. E o melhor “doutor” seria aquele que gostasse de fumar, comer costela bem gordurosa e beber sem restrições.

E o melhor dos melhores seria aquele “doutor” que sempre recomendasse que andar, correr, nadar, escalar e andar de bicicleta faz mal para o coração. O repouso longo em uma rede, numa poltrona aconchegante ou numa cama gigante faz bem para a saúde e regenera os neurônios. Remédios? Só Sonrisal, Pílulas de Vida dr. Ross, Melhoral, Digiplus, Chá Mate com limão e caipirinha (esta para gripe, resfriado, etc., etc.).

Como o mundo moderno está em efervescência e total evolução só a arte médica continua ainda no século XX. As escolas de medicina tem que mudar o currículo e o comportamento dos médicos do futuro. Para ser médico de homens só três anos de estudo acadêmico basta um para estudar a anatomia e dois de aprendizado de gastronomia.

Pode até cobrar mais as consultas, pois os donos de bares podem incluir couvert artístico, se a demora do atendimento estiver aborrecendo. Não precisa que o médico seja necessariamente homem, toda discriminação é odiosa.

Ah! Você é homem?  Que tal a ideia? Não é boa? Se você achou  uma coisa de quem não tem o que escrever, você quase acertou. Lembre-se que hoje é domingo: dia de jogar conversa mole, fora! 

“Médicos para homens? Nova especialidade. Chega de sermos esbulhados e desrespeitados na nossa dignidade e natureza. Exigimos tratamento sem títulos, sem muita conversa e sem demora. Olho no olho e só receita de boa comida e doses etílicas!”
Edson Vidal Pinto

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.