Maldito Computador!
Tenho um amigo muito especial que se preocupa muito comigo, por saber que “dedilho” minhas crônicas, teclando com um só dedo as letras do meu diminuto telefone celular:
- Você precisa digitar no computador! - ele repete, todas as vezes que falamos por telefone.
- Não! Não suporto essa maldição! - respondi, me referindo ao tal computador.
Sei que a tecnologia veio para ficar e que o computador diminuiu as distâncias e facilitou a vida moderna. Nada, ninguém, empresa alguma, nem por um segundo, vive sem o computador que tudo registra e que responde sobre qualquer coisa, sem descanso. Também sei que a comunicação moderna é feita eletronicamente, as pessoas quando estão longe conversam pelos celulares e quando estão pertos, ficam distantes e se entretêm com o quê os celulares distraem.
É muito engraçado. O namoro é virtual, as compras são feitas eletronicamente, os pagamentos e até as mais complexas operações bancárias são feitas via tela de computador. Claro, não ignoro que não dominar essa terrível invenção contemporânea é como viver no subterrâneo das cavernas, como um reles troglodita. Sei de tudo isto, porém abomino o computador
Por quê? Porque sempre escrevi com caneta ao mesmo tempo em que tinha que raciocinar; e tomar muito cuidado para não errar, sob pena de rasurar e as vezes até inutilizar a página de papel em que escrevia. Hoje, tem tudo no computador, ele pensa, dispensa a obsoleta maneira de escrever com caneta ou lápis, basta o usuário ditar e a máquina escreve sozinha e corrige tudo num linguajar perfeito.
E raciocinar? Não há necessidade, pois a tirana máquina tem armazenada nas suas entranhas todos os assuntos que a pessoa deseja abordar, bastando, apenas fazer remendos e “colar” o que interessa. Escrever passou a ser uma espécie de telegrama sem alma, com timbre da impessoalidade e absoluta falta de sentimento. Salvo que eu esteja tão errado.
E dou graças a Deus quando completei setenta anos e tive que me aposentar, pois não saberia conviver com os chamados “processos eletrônicos”, todos digitalizados e espremidos em pequenos disquetes. Para saber o que eles contêm “basta” acopla-los ao computador para aparecer na tela tudo aquilo que foi gravado. E com direito ao som, principalmente quando se tratar de “processo eletrônico Criminal”. Já pensou ter que ouvir todos os depoimentos das testemunhas e o interrogatório do réu? Nem tudo é aproveitável tecnicamente para interessar ao julgamento.
Ainda bem que não senti este drama, porque deixei o Tribunal justamente na fase de divisão das águas, ou seja quando o processo escrito deu lugar ao processo digital. E sabe o pior? Quando olho a tela azul do meu computador parece que estou dentro de um avião, viajando num dia ensolarado e de céu de brigadeiro: minhas pálpebras fecham meus olhos sentem estranha vontade de dormir. Fico hipnotizado e não consigo mais pensar. Invejo àqueles mais idosos do que eu que navegam na tela do computador em busca de mil aventuras. Eu sou um fracasso: não consigo!
É por isso que “datilografo” minhas crônicas na telinha do meu celular, que tem um fundo branco e não permite que eu me distraia além das letrinhas que fico teclando. Meu relógio eletrônico também é uma invenção estupenda, está acoplado ao meu celular, mas eu só sei ver as horas. Acho que para mim um antigo “relógio do sol” serviria, sabe por quê? Ah! Mas chega por hoje, qualquer dia eu contarei sobre ele, senão todos vão pensar que estou muito fora deste novo século...
“Pior de não saber lidar com o computador é sentir sono só de olhar a sua tela mágica. Parece que o cérebro esvazia e os braços pesam como chumbo. Sei que pareço um troglodita no meio de um mundo eletrônico e sem piedade!”
Edson Vidal Pinto