Eu, Candidato.
Enfim depois de idas e vindas fui convencido a me filiar em um partido político e lançar meu nome como candidata a deputado federal. Logo eu, que nunca me meti em política! Mas estou acreditando que vamos modificar o Brasil; com sangue novo e ideal para servir o povo e os interesses nacionais.
Junto conseguirá reescrever uma nova História e colher muita prosperidade e paz ao nosso país. Vou concorrer pelo CONSEGUIREMOS, partido de centro, justo e bem equilibrado. Vamos lutar para reduzir o número de Congressistas, num primeiro momento. Como? Não sei, vamos perguntar a fórmula para o Álvaro Dias, pois só ele sabe.
Também realizar a reforma tributária, criar uma nova Constituinte para impedir a reeleição de qualquer cargo eletivo, adequar a competência do STF apenas para interpretar a Constituição Federal e dirimir questões correlatas. Claro que também abrange uma série de outras modificações que não posso explicitar em razão do espaço diminuto desta crônica.
E por tudo, confesso que estou motivado e acredito na lucidez do eleitor paranaense.
Logo mais participarei da convenção partidária. Foi quando tocou o telefone de minha casa:
- Alô?
- Bom dia, é o “nosso” candidato?
- Sim, quem fala?
- O FHC.
- Mesmo?
- Sim, quero lhe dar meu apoio...
- Mas o senhor não é da esquerda?
- Sou, mas também jogo no centro cobra escanteio e marco gol. Vou precisar de você para a futura anistia.
- Anistia? De quem?
- Do Lula...
- Mas ele foi legalmente condenado!
- Mas injustamente...
Desliguei o telefone. Puxa que conversa esquisita - pensei - logo o Jararaca? O maior Ladrão do país? E o telefone tocou novamente, imaginei que fosse o FHC, novamente:
- Alô?
- É o melhor de todos os candidatos?
- Quem fala?
- Aqui, o Sarney.
- O interminável?
- O próprio...
- O que o senhor quer?
- Que você apresente futuramente na Câmara um Projeto de Lei para que Caixa dois e apropriação de dinheiro público não seja mais crime!
Desliguei o telefone. Pô, nem fui eleito e já estou sendo assediado pelos caciques da política ? O que está faltando? Quem será o próximo? Neste momento tocou o telefone:
- Alô?
- precisamos nos unir, firmar um bloco compacto, para que o habeas corpus seja o remédio para todos os males da vida pública...
- Quem está falando, por favor?
- É o ministro Gilmar, o anjo dos encrencados...
Desliguei com raiva o telefone, não quis mais ouvir conversa mole. Novamente o som do telefone. Enfezado, atendi.
- Candidato? Aqui quem fala é o Temer; preciso de sua ajuda para vender a Petrobras, Eletrobras, Vulcabras, o bairro de São Braz, a Ultragas, a Liquigas, e..
Desliguei o telefone da tomada. Chega! É impossível ouvir tanta conversa imprestável. Foi quando ouvi alguém bater à porta da frente de minha casa. Fui atender. Abri e:
- Bom dia gracinha. Aqui é o seu colega deputado Tiririca.
- Pois não?
- Quero falar com o “colegua”, um papinho rápido.
- Pode falar.
- quero seu voto para presidente da Câmara.
- Ok, se eu for eleito eu voto em você...
- Em mim, não.
- Em quem?
- Na Florentina de Jesus!
- Palhaço!
E toquei o cara de minha casa. Peguei a chave da porta da frente coloquei no lixo. Esperei alguns minutos e silêncio absoluto. Dei graças à Deus por ter acabado o assédio. Foi quando ouvi: Toc, toc, toc.
Era alguém batendo na janela, olhei e dei de cara com o Nelson Justus. Mais do que depressa fechei a cortina e me escondi de atrás do sofá. Desliguei a luz da sala e fiquei bem escondido na escuridão. Minha intenção era me recompor de tantos sustos.
Uma hora depois levantei do chão, acendi a lanterna que achei próxima do móvel, e quando iluminei o ambiente, dei de cara com a Dilma:
- Precisamos salvar o Lula.
- Por que?
- Por que ele é o nosso líder!
- Meu também?
- Claro! De todos nós? Políticos, politiqueiros e safadões!
No mesmo instante rasguei minha ficha de filiação partidária! Chega, não quero ser abduzido por mais nenhum político. A política não é minha praia. Decidi que ao invés de candidato à cargo eletivo eu prefiro ser agente funerário, para não ser lembrado por mais ninguém...
“O assédio aos candidatos é coisa muita seria. Pena que os propósitos não sejam dos melhores. Só resiste deles quem renuncia. É lamentável!”
Edson Vidal Pinto