Edson Vidal

Mentiras Sem tréguas

Está aberta a temporada de caça! Vale tudo a partir de agora, brigar com a mãe, chutar a canela do irmão, ludibriar o vizinho, beijar criança ranhenta e até almoçar em asilo de velhinhas. Sim, é verdade, a temporada para conseguir votos já está permitida, a ordem é percorrer caminhos já trilhados para rever velhos  eleitores.

Os Prefeitos Municipais são os cabos eleitorais mais paparicados, pois são detentores de votos indispensáveis para qualquer eleição. Muitas vezes já foram abduzidos por Conselheiros dos Tribunais de Contas para eleger filhos, parentes e apaniguado. Sem contar os famosos líderes de comunidades que detém votos de cabresto e ficam à disposição de todos os candidatos e quem pagarem mais, leva.

As igrejas dos pastores evangélicos são visitadas por candidatos católicos, muçulmanos, budistas e ateus. Vale tudo nesta hora, parece que nem Deus se importa de ser importunado. Já nas igrejas católicas os sermões são gratuitos e dirigidos para destruir os candidatos de direita. No interior, nem os bares de encontros de conhecidos pinguços passam em branco; não há um mínimo espaço que não seja invadido pelos candidatos.

E as promessas? Estas são sempre as mesmas, elas se repetem porque decoradas por todos na ponta da língua, sem novidades porque muitas delas vêm de pai para filho. As palavras são treinadas antecipadamente  para serem usadas em qualquer ocasião, sempre com um sorriso nos lábios, braços abertos e mãos estendidas para quem quiser nela segurar. É também a temporada dos avais bancários para empréstimos financeiros dos eleitores mais chegados.

Gente vale tudo, até diálogos sem pé e nem cabeça: 
- Ambrósio, meu amigo, como vai você?
- Deputado, eu não sou o Ambrósio...
- Claro que não, Agenor!
- Deputado, eu também não sou o Agenor...
- Você... Então  é o...
- Tadeu, deputado, o filho da d. Aninha...
- Claro! Da querida d. Aninha do terreiro da Pena Dourada...
- Não Deputado, d. Aninha do “Bar da Vovó “.
- Você tem razão Tadeu, a d. Aninha, tua mãe, tem um bar na Vila Tingui ...
- Não Deputado, no Hauer...
- Sei, bem pertinho do terminal de ônibus?
- Não, próximo da Linha Verde.
- Sei, sei, mas dê meu abraço apertado para a d. Aninha, diga-lhe que não deixe de votar no seu amigo, aqui...
- Impossível deputado.
- Por que, Tadeu?
- Mamãe morreu há três anos...
- Eu não acredito; parece que foi ontem que eu estive na casa dela, tomando um cafezinho especial...
- Ela morava em apartamento, deputado.
- Não! O apartamento tinha o aconchego de uma casa, pra mim é como se estivesse...
- Deputado Paranhos, acha melhor parar de falar, porque só está dando bola fora!
- Calma, Tadeu, pois eu também não sou o Deputado Paranhos, sou o deputado Franco da Costa!
- Sei...
- Que tal se você votasse em mim?
- Não posso, sou eleitor do Deputado Paranhos...
- Que azar, eu tenho um jogo de camisas de futebol para dar e pelo jeito vou ter que entregar em outro bairro...
- Ah! Desculpe-me a brincadeira Deputado Franco da Costa, claro que eu sou o Ambrósio, seu eleitor, filho da d. Aninha, do Terreiro Flecha 

Dourada, que está vivinha da Silva e lhe mandou um abraço.
- Puxa, que susto você me deu...
- Por dizer que minha mãe  tinha um bar, próximo da Linha Verde, no Hauer e que morava em um apartamento?
- Não, Ambrósio, por você dizer que ela morreu, pois o voto da d. Aninha é muito precioso para mim!
- E o jogo de camisas, deputado?
- É todinho seu bom proveito.
- Vou fazer o bairro todo votar no senhor, deputado.
- Tenho certeza disso. Tchau, amigo Ambrósio!
- Tchau, Deputado Franco da Costa, vamos faturar mais esta eleição!
- Com teu apoio, sem duvida!

E quando o candidato se afastou, Ambrósio todo satisfeito com o jogo de camisa de futebol que ganhou, disse para seu amigo Getúlio:
- Putz, como é mesmo o nome deste deputado otário, que nunca vi mais gordo na minha vida! 

E por seu lado o deputado disse para seu assessor;
- Simpático o Ambrósio, não? Tirei votos da pedra...
- Por que deputado?
- Nunca vi esse cara mais gordo em todo a minha vida! Assim mesmo consegui alguns votos desse otário, por mísero jogo de camisas de futebol, padrão de quinta categoria...

E a caçada começou, para deleite dos bons, nobres e velhos politiqueiros que assombram a vida nacional.

“Tem candidatos para todos os gostos. Tem também ótimos candidatos, infelizmente sem densidade eleitoral. Os candidatos rançosos é que levam vantagem porque são conhecidos até pelas suas fichas corridas.”
Edson Vidal Pinto

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