Edson Vidal

Canapé de Ostra.

Sou um fracasso na cozinha, talvez por isto eu seja amargo nos comentários que faço sobre os chefs quituteiros. Com certeza é pela pura inveja que sinto. Tenho primos e grandes amigos que fazem misérias quando dirigem um fogão, são exímios na arte de lidar com as panelas, usam especiarias importadas  e dão show no preparo de qualquer comida. Penso sempre que são pessoas ungidas por Deus.

Claro que me refiro apenas aos homens,  porque a maioria das mulheres nasce com este dom divino. Em compensação àquelas que não têm estes pendores vivem do trabalho alheio, do bolso do maridão ou dos pratos que este caprichosamente prepara para sua sortuda amada. Destas falarei em outra oportunidade.

A minha birra de hoje está voltada aos homens que são maus exemplos: os bons cozinheiros! Tem um chef que faz programa diário na Rádio BandNews que eu tenho vontade de esganar, pois além de ensinar receitas ainda deixa os ouvintes com água na boca. Quando ele fala eu redobro minha atenção e no final das contas não consigo entender patavina da receita dada, muito menos o modo de preparar o prato.

E o sujeito fala como se estivesse soletrando a leitura de um livro para um bando de analfabetos. Mesmo assim, não assimilo coisa nenhuma. Tenho vontade de quebrar o rádio no chão. Tal a minha frustração. E pensar que nem sei fritar um mísero ovo de galinha, nem passar café e muito pior atrever a fazer um churrasco. Acho que sou um pamonha ou um vulnerável preguiçoso.

Não consegui até hoje me definir muito bem. Só sei que não quero frequentar nenhuma escola de culinária, embora ache bacana usar aquele chapéu que fica mole na cabeça e o avental com o nome bordado no peito. Da certo ar de sofisticação e de superioridade para os excluídos do fogão. Quando vejo um deles, parece que estou na frente de um médico, de jaleco branco, com mil distintivos bordados na manga e com o nome próprio, depois do “doutor”, gravado como anúncio luminoso na parte frontal da indumentária.

Ah! Lembrei, quando fui escoteiro em sabia fazer “ovo no espeto”, hoje, nem isto eu faço e quando falo desta minha aptidão culinária, sempre sou ridicularizado. Ninguém acredita, acho que nem eu. Embora seja um “prato” delicioso. Tem que existir uma explicação lógica para que alguns homens entendam mais de culinária do que outros;  talvez o aprendizado tenha sido gerado no seio da família, ou quem sabe, seja uma aptidão inata de cada pessoa.

Às vezes fico em dúvida, pois tenho um sobrinho-neto que é Chef de cozinha em um hotel cinco estrelas da Alemanha, que nunca aprendeu a cozinhar em casa e quando foi para a Europa, também não sabia fazer nem ovo frito. Desconfio que sejam os ares daquele Continente, que lhe deu inspiração para se tornar um doutor da culinária. Talvez seja este o segredo.

Como alimento meu desejo de morar em Anchorage, no Alasca, talvez quando lá estiver morando desperte dentro de mim a mágica vontade de cozinhar. Será maravilhoso, pois com certeza quem for me visitar por aquelas bandas, poderá apreciar os meus canapés, recheado de ostras cruas, preparados como aperitivos por mim mesmo, com muito amor e carinho. Mas enquanto ainda não me mudar, podem me visitar quando quiser, sem nenhum medo, porque minha mulher é uma exímia cozinheira...

Atenção: As opiniões dos nossos colunistas, não expressam necessáriamente as opiniões da Revista Ações Legais.