Edson Vidal

A Bicicleta de Ouro.

Tem muita gente que trabalha e se esforça para poder alcançar um lugar ao sol e não consegue. Em compensação muitos são irresponsáveis e acomodados, mas têm uma baita sorte e conseguem viver numa boa.

Nesta categoria estão os bens abonados que nasceram em berço de ouro, os que casaram com mulher rica e finalmente aqueles que ganharam na loteria. Benedito dos Santos foi um desafortunado que nasceu na miséria, estudou só até o primário, foi torneiro mecânico, aposentou-se muito cedo por ter uma unha encravada no dedão do pé, esquerdo.

Um dia jogou uma única cartela da Loto e ganhou! E sua sorte na vida mudou. Tinha tanto dinheiro que realizou o sonho da sua vida: ser proprietário de uma bicicleta de ouro. Ouro maciço. Quando a bicicleta lhe foi entregue pela Tiffany ele chorou de emoção.

E depois de aprender a dirigir uma “magrela”, na Auto Escola Silva, comprou todos os apetrechos necessários para a sua segurança, contratou um engenheiro de trânsito que traçou a rota da primeira “viagem” pelas ciclovias de Curitiba e com o coração batendo mais do que de costume, iniciou sua jornada. Era uma manhã ensolarada. E não teve quem não olhasse aquela maravilha sobre duas rodas.

As pessoas ficavam extasiadas com o reflexo do sol matinal sobre o mais puro ouro nunca visto desfilando pelas ruas. Uns acharam que o brilho era dos olhos de um boi tatá que saiu da Serra do Mar e invadiu a cidade, e os mais cautelosos de que tudo não passava de mais uma ostentação do Lula.

Mas quando as pessoas olhavam melhor viam que era um felizardo dirigindo sua bicicleta de ouro, de 18 quilates. Um desbunde! Benedito dos Santos estava realizado, o povo ficava  boquiaberto por onde passava. Seu estado de espírito era tamanho que se esqueceu da rota anteriormente traçada, queria mais que o povão sentisse inveja da sua riqueza, coisa normal entre os novos ricos.

E quando se deu conta estava dentro do acampamento dos “assentados”  da Santa Cândida, aqueles ociosos que protestam contra a injusta prisão do Jararaca. 
- Onde o mocinho pensa que vai? -Perguntou uma loirinha que deveria ser a chefe.

Sem ter o que responder, Benedito tentou justificar:
- Vim prestar meu irrestrito apoio ao Grande Timoneiro.

De repente foi ouvida uma voz rouca saída da janela gradeada do terceiro andar, do prédio da Superintendência da Polícia Federal:
- Ouro! Ouro! É puro ouro!

A loirinha e seus liderados então perceberam que a bicicleta não era pintada de dourado, ela era de puro ouro. Metal precioso que jamais passaria despercebido pelos olhos de uma Jararaca por mais longe que esta estivesse. Ele (a Jararaca) conhecia o ouro até pelo cheiro. E os assentados cercaram de imediato o ciclista com a sua  bicicleta de ouro.

Este temendo pelo pior, disse para a loirinha:
- Trouxe esta magrela para dar de presente ao meu colega torneiro mecânico, solidário com sua abstenção alcoólica, para ele poder pagar os honorários dos seus advogados a fim de que estes possam ganhar da “Chapa XI de Agosto” na futura eleição da OAB-Pr. 

E os aplausos e foguetes não pararam mais. Logo em seguida uma roda de viola e um bom fandango. O acampamento virou em uma estrondosa festa, para desgraça dos moradores do local. Ninguém percebeu quando Benedito dos Santos saiu de “fininho”, sem ninguém ver. Efeito da cerveja, com certeza. 

E quando voltou para casa, no início da noite, a pé e com frio, a sua nova esposa lhe perguntou:
- Benzinho, onde você esteve até esta hora? Não vai dizer que deu a bicicleta de ouro para alguma “quenga”?

Sem muita vontade de explicar e contar em detalhes o que havia lhe acontecido, o ricaço respondeu:
- Mais ou menos isto, querida. Mais ou menos isto...

“Gosto de contar histórias na primavera. Qualquer semelhança com situações reais são meras coincidências. Enredo que não passa de fértil criatividade de seu autor.”
Edson Vidal Pinto

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