Edson Vidal

Hotel Flutuante.

Quem não gosta de viajar de férias não é mesmo? Claro que viajar por obrigação do trabalho é diferente, não tem a graça e nem a despreocupação por companhia. E cada um tem ou escolhe o melhor meio de locomoção,  terra, mar e ar. Eu como sou acomodado e gosto de bons tratos prefiro sempre viajar pelo mar.

Dá uma sensação diferente e liberdade para percorrer todos os cantos do navio, sentindo de perto a grandeza e a arte da engenharia naval. Cada ano que passa é lançada aos mares grandes e luxuosos navios de passageiros, para todos os bolsos  e gostos. Para quem gosta de bons tratos, conforto e ficar de “papo para o ar”, não tem coisa melhor. Para um bom consumidor e de temperamento agitado  a viagem não é recomendável, embora não falte agito a bordo.

O primeiro trajeto que fiz de navio foi quando casei, há quarenta e oito anos atrás, num trecho pequeno de rio e de mar, entre Montevidéu e Buenos Ayres. E nunca esqueci a emoção da partida. É uma viagem que começa às dezessete horas e chega ao destino de desembarque às oito horas da manhã.

A maioria dos passageiros é de pessoas que normalmente fazem este trajeto para reencontrar a família que reside em um ou no outro país. É uma viagem diferente por ser mais um meio de transporte do que de turismo propriamente dito, embora o navio tenha todo conforto, cabines, restaurante, cassino, shows, bares e piscina.

E o que marcou muito foi na hora da despedida quando o navio zarpou do porto, uma banda no cais tocou a valsa da despedida e os que ficaram acenavam com lenços brancos para aqueles que partiam.

Foram poucos os que não choravam. Depois desta experiência sempre que podemos eu e minha mulher preferimos as viagens pelo mar. Felizmente só enfrentamos uma pequena tempestade quando fomos à Nassau, Capital das Bahamas, e pudemos sentir de perto a fúria das ondas. Enjoei mas não desisti. Outro trecho agitado é navegar pela costa brasileira, mesmo com dias ensolarados. Venta muito. Viagem imperdível é até o arquipélago de Fernando de Noronha. Só navio de pequeno calado é que pode entrar no remanso da ilha e o transporte até ela é feito por dezenas de veleiros.

E por ser navio de pouco lastro ele joga muito em todo o trajeto da viagem. Mas a viagem imperdível mesmo é poder estar a bordo de um navio saindo pelo canal central de Veneza em direção à ilha de Malta, no Mediterrâneo. A beleza da cidade italiana, com pessoas na Praça de São Marcos e por toda a orla e canais, acenando para os passageiros, é difícil de descrever.

Os apitos estridentes do navio em todo o percurso que margeia a cidade soam como retribuição pelas manifestações espontâneas de carinho. E a saída se dá quando a noite começa a cair, os últimos raios de sol vão desaparecendo e as primeiras luzes de Veneza começam a serem acesas. 

Uma sensação toma conta de todos despertando em cada passageiro  o amor pela vida, pelas pessoas, pela família e nos torna mais humildes e humanos. E logo depois vem a imensidão do mar, com milhares de estrelas brilhando lá alto e o navio todo iluminado iniciando vagarosamente seu trajeto dentro da escuridão da noite. Parece que Deus está bem pertinho, em cada sopro da brisa do mar.

Nos Estados Unidos muitas famílias se reúnem e financiam suas passagens antecipadamente para poder usufruir das viagens marítimas nas principais festas do calendário, principalmente no natal que é festejado com muita alegria. É uma maneira inesquecível de passar as festas de final de ano com a família reunida. Não faltam gorros e nem barbas de Papai Noel em todos os cantos e lugares do navio. 

E cada encontro um novo cumprimento de “Feliz Natal”. Uma alegria contagiante. Vale a pena, pois são momentos de pura felicidade. E tem pessoas de todos os tipos, tamanho, peso e beleza. Vale usar qualquer tipo de roupa, menos nos restaurante onde traje é um pouco mais formal.

E quem não quiser almoçar ou jantar em nenhum deles não faltam ótimas lanchonetes com farta qualidade de comidas. O navio é uma cidade flutuante e deixa recordações para toda a vida.

E não falta um bom remédio para “domar” uma labirintite ou um enjoo inesperado; pois vale a pena adentrar mar afora, onde a aventura com certeza  começa... 

“Viajar por deleite é sempre prazeiroso. É uma oportunidade de fazer amigos e desfrutar dos bons momentos da vida. Às vezes viajamos sem sair do lugar,  é quando nos deixamos envolver pelas lembranças das viagens. Isto acontece com todos e a qualquer hora.” 
Edson Vidal Pinto

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