Guaratuba, Sempre Guaratuba!
Não sei bem explicar o que aconteceu: num esforço sobrenatural levantei junto com o sol e fui até a praia pela primeira vez nos últimos trinta anos, para colocar meus pés no mar. Acho que estou com o “alemão” na cabeça.
Gosto de praia, mas prefiro a preguiça de ficar em casa, fazendo exercício no meu trajeto favorito, da varanda até a piscina e vice-versa. A praia vê pela janela do meu carro.
Gosto do sol embora sempre me esconda dele, parece que somos almas gêmeas, mas com aversão mútua. Tenho medo de queimadura e de dormir no “cabide”. Admiro quem fica horas e horas assando a pele sob o brasido do Astro Rei, o que nunca foi de meu gosto. Mas não sei o porquê, estou fora do horário de meu relógio biológico, com os pés no mar.
Sinto a água morna, aprazível e relaxante como se quisesse impulsionar a minha vontade de continuar vivendo. Nem cheguei a andar uns trezentos metros na praia e me deparei com um conhecido, o Anselmo, frequentador assíduo da Barra Sul do Balneário Camboriú.
Acho que ele me viu, mas tentou se esquivar para não dar explicações sobre a sua presença. Pois ele defendia o luxo e a sofisticação de passar temporadas de praia sempre na sua Camboriú, fazendo chacotas daqueles que frequentavam Guaratuba.
Eu não resisti:
- Ei, Anselmo, voltando às origens? - provoquei.
- Oi, não vi que era você.
- Matando a saudades de Guaratuba?
- Mais ou menos, resolvi voltar para cá, vendi meu apartamento da Barra Sul do Balneário e comprei uma casa aqui...
- Ué, por quê? Você não achava Camboriú melhor que Copacabana?
- É, é verdade. Sabe ainda acho, mas a rodovia que liga Curitiba com Camboriú é um saco. Nos períodos de férias você só consegue sair para a rua a pé, de carro é um congestionamento absurdo...
- Mas é uma metrópole, não?
- Continua sendo, só se você tiver necessidade de um socorro médico urgente você fica nas mãos de Deus. Os restaurantes sempre lotados, fila nas farmácias, fila para tudo o que você quiser comprar. Disputa de espaço na praia com outros turistas e duelo de morte para conseguir meio metro quadrado na areia em que chegue o sol. Os edifícios cada vez mais altos e o sol apenas para clarear o dia.
- Ah! E o chiquê?
- Cada dia mais, principalmente quando o transatlântico com milhares de passageiros fica fundeado ao largo da praia.
- Mesmo assim, você voltou?
- Tenho que reconhecer que Guaratuba tem de tudo um pouco, não é ótima mas também não é ruim, tem sol na areia da praia, tem gente de todas as tribos, chove mais do que lá, mas está bem mais perto de Curitiba.
- Só isso? - insisti.
- Tem o ferryboat, jornal, o Morro do Cristo, as Caieiras, a praia brava dos paraguaios, a colônia de pescadores, a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso e a baía que é uma pintura para os olhos.
- Só?
- Não, tem um povo simples e trabalhador...
- Só?
- Quer que eu diga que também tem os veranistas iguais a você? Que não troca Guaratuba por nada?
- Isso mesmo: igual a você, meu caro. Bom retorno, o bom filho à casa sempre torna! Tchau.
- Tchau.
E cada qual continuou andando com os pés na água do mar, chutando timidamente uma ou outra onda que se aproximava para beijar a areia.
Não, não escrevi com nenhum intuito de provocação, longe de mim; quem prefere Camboriú que continue por lá, e quem prefere a bucólica Guaratuba que continue sempre por aqui.
Cada um na sua, com seus gostos, modos e forma de viver a vida. Mas que Guaratuba é tudo de bom, não tem como negar...
“Gente por favor ninguém se irrite. Ser bairrista é como torcer para um time de futebol: cada um fica na sua. Guaratuba é Guaratuba e ponto final. Praia é praia onde tiver mar. O lugar é questão de preferência e oportunidade, nada mais. Mas vamos e venhamos: só Guaratuba é melhor que Guaratuba!”
Edson Vidal Pinto