Edson Vidal

Água no Umbigo.

Como é gostoso ficar na areia e contemplar a imensidão do mar, o vai e vem das ondas, o reflexo do sol sobre a água e deparar com a linha do horizonte. Não tem quem não se sinta um grão de areia e duvide da existência de um Criador Incriado.

O mar fascina e ao mesmo tempo amedronta. Tudo que o homem não domina ou ele  odeia ou teme. Eu tenho medo do mar porque quase me afoguei quando era criança; estava brincando com a água no umbigo e uma correnteza me arrastou para o fundo, fui salvo por pouco.

É por isso que não entro na água da praia e prefiro a segurança da piscina, sem me afastar muito de suas bordas. Não sei nadar, me apavoro só de pensar. Meus filhos, noras e netas ao contrário são verdadeiros peixes dentro da água. Eu só assisto  de longe e minha mulher também.

E foi num momento como este, quando estávamos na praia brava, do outro lado do Morro do Cristo, eu e minha mulher sentados sob o guarda-sol, vendo os nossos dois filhos surfando sobre as ondas violentas, que o inusitado aconteceu.

Época em que Guaratuba tinha no seu céu um pequeno avião, monomotor, percorrendo seu espaço aéreo e que levava na cauda uma propaganda da “TANG”, marca de um refrigerante. Muito ruim, por sinal. O aviãozinho percorria toda  a orla marítima, inclusive as demais praias vizinhas. 

Lembro que foi no último dia do mês de janeiro, pois os veranistas estavam rareando e voltando  para a capital. Céu azul de brigadeiro. De repente vimos o aviãozinho no alto com a faixa de tecido presa na sua parte traseira, com seu “toc-toc” do motor, ruído conhecido dos banhistas. Eu e minha mulher ficamos olhando e acompanhando o voo tranquilo da aeronave.

Minutos depois só ouvimos um “toc” e o motor desligou:
- Vai cair! - gritei.

E o avião embicou e veio como uma bala em direção à última casa da esquina, batendo com a asa no beiral do telhado e caiu num baque surdo, bem na calçada. Chamei meus filhos e nos dirigimos correndo em direção ao monomotor. Não senti cheiro de combustível.

Aproximamo-nos para saber como estaria o piloto, dentro da carlinga. Esta com a batida na quina do telhado da casa estavam abertas. Olhamos para dentro e o piloto tinha sumido. 

Foi quando ouvi do outro lado da rua, em pé, um homem gritar:
- Ei, sou eu o piloto! - ele levantou a mão e caiu.

Aproximamos-nos do homem, que estava com fratura exposta em uma das pernas e antes de desmaiar me pediu:
- Por favor, pegue minha carteira de dinheiro e meus documentos que estão dentro do avião...

Tudo foi muito rápido. O piloto perdeu os sentidos e logo chegou a ambulância do Corpo de Bombeiros. Por certo alguém também assistiu a queda e comunicou a ocorrência. Meu filho mais velho entregou a carteira com os documentos para o policial e estes levaram o piloto para o hospital.

Foi uma ocorrência que jamais pensei que um dia pudesse ver: a queda de um avião. Depois fiquei pensando do por que do pequeno avião não ter planado quando falhou o motor, pois um teco-teco, bem maior, teve um problema semelhante e planou sem maiores problemas.

E dentro deste estava o saudoso Enéas Faria e seu irmão Fajardo, num voo de Santa Catarina para o Paraná. Mas, tudo bem, esta é outra história para ser contada em outra ocasião...

“O céu e o mar guardam segredos e histórias que parecem ficção. Só acredita quem viu e não esquece jamais. Só mesmo os seres humanos com o espírito de aventura, enfrentam um palco que não dominam e nem conhecem bem!” 
Edson Vidal Pinto

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