Edson Vidal

Sob o Sol Escaldante de Guaratuba.

Estava ainda sonolento no meu quarto, lendo e curtindo o ar condicionado, quando minha mulher entrou e me pediu para levá-la até uma loja comprar um tapete para o banheiro.

Como bom motorista em meio minuto estava na direção do meu carro, com quepe e tudo. Liguei o ar condicionado e fiquei com disposição de dar a volta ao redor do mundo, pois estava dirigindo dentro do Paraíso. A loja fica na praça central de Guaratuba, onde está localizada a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso.

E nenhuma vaga para estacionar. Dei  duas voltas completas ao redor da praça quando surgiu uma vaga, com um “flanelinha” ao lado dela apontando onde eu deveria estacionar. Manobrei o carro e antes de desligar o motor vi que não tinha mais nenhuma árvore na praça, elas foram cortadas e suas raízes arrancadas. Não ficou uma única sombra e em compensação não  se via uma viva alma na imensidão da  praça.

Um absurdo da administração municipal. Neste ínterim o “flanelinha” que estava mais “torrado” que o Lula, falou:
- Tio, vou cuidar bem do seu carro!

Sem alternativa apenas fiz com a mão direita um sinal de “positivo”. Minha mulher desceu e eu fiquei no interior do carro aproveitando os últimos segundos do ar gelado do interior do veículo. Desliguei o motor e quando abri a porta não enxerguei mais nada;

A lente do meu óculos ficou embaçada com o choque térmico do ar frio com o quente, parecia que eu tinha entrado no inferno.

O bafo da fornalha me deu um soco no rosto, fiquei meio atordoado. Procurei respirar profundamente e só então pude enxergar um pouco, foi quando me deparei com o deputado Justus, todo vestido de branco como uma vestal, com os cabelos bem engomados e óculos escuro,  com ar de quem não quer nada com nada:
- Bom dia, deputado. - cumprimentei por educação.
- Que bom dia que nada, aonde eu vou só ouço reclamações das pessoas contra a administração municipal de meu guri...
- Pudera deputado, a praça parece cenário de guerra...
- Porque está inacabada!
- As ruas esburacadas, mato por todos os lados e um IPTU lá nas alturas. - retruquei. 
- Sim, mas não é culpa do meu garoto...
- A culpa é de quem, então?
- Da Cida que prometeu tudo e não se elegeu, ela jurou que iria financiar todas as benfeitorias, mas não se elegeu.
- Ah! Por isso a administração municipal está indo de mal a pior?
- Positivo! - respondeu já meio irritado o impoluto parlamentar. 

Eu ignorei sua postura e fui direto ao âmago da questão:
- Deputado, como foi mesmo o final do julgamento do processo dos “Diários Secretos da Assembleia”?
- Fui absolvido!
- Foi condenado! - retruquei em cima.

Ele fingiu que não ouviu e desapareceu na névoa da fumaça quente que saia do asfalto derretido. Escafedeu-se sem deixar vestígio. Pensei com meus botões: ele colocou um guri inexperiente como prefeito da cidade e quase perdeu a eleição; seus votos em Guaratuba foram pífios.

Olhei para o alto e não tinha uma única nuvem no céu, o termômetro marcava 32 graus. Quando tentei entrar na loja minha mulher voltava, com um pacote na mão.

Entrei de volta no carro; ela entrou em seguida.
- Tio, uma gorjeta!

O bafo do homem exalou dentro do carro. Dei para o “guardador de carros” os últimos cinco reais que tinha na minha carteira. No caminho para casa fiquei pensando no que o novo Secretário da Fazenda falou ontem na TV, sobre a saúde financeira do Paraná:
- Não sei de nada!
- Porque, secretário? E os cinco milhões que a ex-governadora deixou em Caixa? 
- Não sei de nada, repito. Não estão no orçamento dos últimos quatro meses. Sumiu?!

Acho que o calor fundiu minha cuca. Fiquei pensado: socorro, onde estão os cinco milhões da Cida? Façam suas apostas: estão escondidos no período não abrangente do orçamento ou nunca existiram? Onde está a verdade? Façam suas apostas. Acho que o dinheiro “prescreveu” igualzinho ao crime do deputado “folião do carnaval”; não sobrou nada com coisa nenhuma. 

Será? Zeus, quanta fofoca e  mistério envolto no calor desértico do verão paranaense? E pensar que estive na boca do inferno quando abri a porta do meu carro na Praça de Guaratuba: ainda bem que não enxerguei o demo. Ainda bem...

“Quanto mistério na política paranaense. Nenhum deputado condenado e o dinheiro sumiu do orçamento público. Nem nos “Diários Secretos” da Assembleia Legislativa existem indícios de verdade. Moro, por favor apareça. Não esqueça da “tchurma” daqui!”
Edson Vidal Pinto

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