Edson Vidal

A Desgraça de Não Saber Cozinhar.

Não sei se é verdade absoluta dizer que todo indivíduo tem pelo menos uma frustração na vida. Eu confesso que tenho varias: nunca soube empinar raia; não sei afinar meu violão; não consigo correr; nunca consegui jogar pião; não entendo nada de mandarim e a maior de todas: não sei cozinhar! 

Esta última eu considero como dar um nó em um pingo d’água, pois é uma arte milenar das mais difíceis. Não sei se é por inaptidão ou por comodismo, pois casei com uma excelente cozinheira. Eu tento me convencer que por ser teórico em excesso não tenho pendores para atividades práticas, mas sei que é um argumento sem nenhum nexo.

Tenho um amigo chinês, o Aldo, que se gaba pelas comidas que faz, principalmente quando elabora comida alemã como o  tradicional joelho de porco que tem um nome difícil de escrever. Na sua casa nas margens do Barigui ele faz comida de todas as nacionalidades e todas elas saborosas.

E como todo bom chinês é calmo, educado e não aceita elogios. Ah! Se fosse eu, eu jamais pararia de perguntar para quem estivesse comendo a comida que preparei “se está gostoso!” E sempre estaria de ouvidos abertos para saborear os elogios. Mas não passa de sonho: pois não sei cozinhar!

Claro que muita gente me aconselhou a frequentar uma escola de culinária; mas sempre alego que não tenho tempo disponível e que só gosto de ver aqueles chapelões de Mestre Cuca na cabeça dos outros. Minha mulher também me provoca e quer ensinar, mas sempre alego que estou indisposto.

Todavia nunca perco um bom programa de culinária na televisão, principalmente quando os apresentadores percorrem o mundo para saborear pratos das mais diversas cozinhas. E até quando fazem o preparo da comida. Eu sinto o aroma no ar e gosto de imaginar o sabor do bacon em minha boca.

Só que tudo não passa de devaneio, pois não sei cozinhar. Se já tentei pilotar um fogão? Nunca! E por isso todos aqui em casa duvidam que na minha adolescência eu tenha sido escoteiro, mas felizmente tenho fotografias de uniforme e chapéu de abas largas para provar.

Eu era ótimo para comer a comida que os outros escoteiros faziam:  miojo com cachorro quente, tomate e Qsuco. E daquela época só aprendi fazer ovo no espeto  que infelizmente não sei mais fazer porque perdi a técnica. Era um prato muito difícil de fazer e elaborar por ser demasiadamente exótico. 

E quando minha mulher não está em casa e eu sinto fome eu não me aperto, pois sei como poucos colocar leite gelado no copo, abrir um pacote de bolachas e solucionar o “problema”. 

Só por favor não me julguem pela minha incompetência culinária, por favor eu peço encarecidamente que não seja mal interpretado por isso e nem tripudiado. Quero que você lembre que sou um inabilitado do fogão, um pária que sonha apenas em comer, um sacerdote que abomina a penitência.

Encareço, por isso, que reconsiderem minha situação e quando prepararem um suculento churrasco ou qualquer outra refeição com frutos do mar que nunca se esqueçam de me convidar para comer porque só não sei cozinhar, mas sou ótimo garfo para compartilhar de uma ótima mesa de boas comidas...

“A frustração humana pode levar o homem à tumba. Como deve ser prazeroso saber fazer uma comida saborosa. E pensar que tem gente inabilitada para dirigir um fogão. São os párias da cozinha, sempre dispostos a comer e elogiar. Se você é um ungido que sabe cozinhar bem, convide um pobre pária para comer porque só ele sabe massagear o seu ego.”
Edson Vidal Pinto

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