Edson Vidal

Comarca de Faxinal.

Sentado na minha poltrona no escritório do apartamento, lancei os olhos nos livros da biblioteca e deparei  espremido entre dois grossos volumes uma edição mirradinha  que me chamou a atenção. Levantei e da prateleira retirei a dita cuja e li escrito na capa: “Histórico do Poder Judiciário do Estado do Paraná. Comarca de Faxinal Dez/1.984”.

E passei a folhear como um álbum de recordações enquanto ao mesmo tempo saboreava com saudades os verdes anos de minha vida. A edição foi prefaciada pelo então Juiz de Direito, dr. Paulo Habith, e a pesquisa da história foi de autoria de Dileta Bordignon  Bahls.

O município de Faxinal foi instalado em 14 de dezembro de 1.952, cujo território foi desmembrado do Município de Apucarana; e somente deixou de ser Distrito Judiciário de Araruva (hoje Marilândia do Sul) para se tornar Comarca no dia 26 de janeiro de 1.969, tendo sido designado para atender os serviços forenses o Juiz Substituto, dr. Ronald Negrão, da Secção Judiciária de Ivaiporã.

O primeiro Juiz titular foi o dr. Mário Rau, e na sequência: drs. Dario Levino Torres, Gilberto Rezende, Josué Corrêa Fernandes, Antônio Carlos Vieira de Moraes e Paulo Habith. Pelo Ministério Público quando da instalação da Comarca foi designado o Promotor de Justiça, dr. Rui Pinto, que fez o primeiro júri.

O primeiro Promotor titular foi o dr. Oromar Antônio Córdoba e na sequência: drs. Edson Luiz Vidal Pinto, Carlos Alberto Dissenha, José Norival da Silva e Dirceu Sodré. E dentre os advogados com atuação na Comarca, estão os drs. Clovis Roberto de Paula, Moacir Paulo Sega, Nikolaus Hec, Luiz Antônio Chichócki, Estefano Sansonivski, Carlos Roberto Bastiani, José Chichócki  Neto, Altevir Gabriel Kirchner, Dagoberto dos Santos Silva, José Carlos Alves Sebastiani e Mateus Sêga. 

O opúsculo em comento foi publicado no tempo em que o Tribunal de Justiça era presidido pelo Des. Alceu Conceição Machado e sendo Corregedor da Justiça o Des. Luiz Renato Pedroso. 

Li o pequeno livro tão rapidamente  como me transportei para o passado e mentalmente me vi passeando na praça  da cidade, na rua principal toda macadamizada onde reinava o pó ou o barro, com um comércio incipiente e com um único posto de gasolina alem de um Hospital. O hotel era o “Maysa” que servia pela manhã café com leite, pão e manteiga, sendo que no banheiro do quarto havia um único espelho 3x4.

E lembrei-me dos bailes dos 40 Country Club, presidido pelo saudoso Tolstoi Mantovanni, que trazia cantores de renome como Gregório Barrios, Tony Angeli e anualmente apresentava as debutantes para a sociedade local. De outro viés o índice de criminalidade era assustador com uma média de sete sessões de júri por mês.

A comarca compreendia os distritos de Grandes raios e Borrazópolis que eram de difícil acesso, dificultando o trabalho da polícia e também dos oficiais de justiça. Cada sessão do Tribunal do Júri era a atração local pois comparecia não só o Prefeito como até os Vereadores e  o Pároco. Tinha crimes com conotações políticas e também de discórdias entre famílias. A violência era tanta que motivou o Tribunal de Justiça a remover compulsoriamente o saudoso Juiz Mário Rau para a Comarca de Cambé, para resguardar a sua vida e integridade física, e foi quando  recebi a primeira ameaça grave por ter requerido as prisões de três policiais civis da cidade.

Claro que de lá para cá o cenário mudou e o hoje Faxinal é uma localidade pacata, tem até edifícios e suas ruas são todas asfaltadas como também o acesso da cidade até a Rodovia do Café. Os tempos são outros com telefone, televisão, computador e água encanada.

Porém tenho saudades daquela época e dos amigos que ainda moram por lá e de outros tantos que apenas habitam meus sonhos. Como foi bom ler um pequeno livro que com certeza serve de história para uns e de tantas lembranças para outros...

“Como pode um minúsculo livro transportar o leitor para uma época tão distante? Só mesmo através da leitura surge a magia de se poder voltar ao passado. Por isso como é bom ler, vagar pelo imaginário sem sair do local; vivenciar o irreal e sentir que ficaram rastros profundos para trás!”
Edson Vidal Pinto

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