Edson Vidal

Jogo Bruto.

Lembro-me de quando eu era adolescente e jogava futebol com os frades Franciscanos (OFM) que moravam no mosteiro da Igreja do Senhor Bons Jesus, da Praça Ruy Barbosa, em um campo de barro e areia localizado nos fundos entre a igreja e o antigo colégio.

Na verdade era um espaço reservado para os frades onde eles cultivavam legumes, rezavam, estendiam roupas para secar e praticavam esportes. No salão paroquial tinha o Grupo Escoteiro “Jorge Frassati” para os alunos do colégio e muitos clérigos também participavam ativamente das reuniões.

É por isto que de vez em quando os escoteiros (e eu era um deles) disputavam com os franciscanos homéricas partidas de futebol. O Frade Superior era frei Osório, um homem de meia idade, austero e disciplinador. Ninguém ousava enfrentar o seu olhar e muito menos os escoteiros.

E cada jogo era para valer - jogo bruto - pois os frades com físicos mais avantajados e fortes como jamanta não brincavam em serviço. Jogavam vestidos de batinas e descalços, porém chutavam até pedra se estivesse ao alcance de seus pés. Era engraçado porque quando um deles machucava um escoteiro em seguida pedia mil desculpas e benzia o local do machucado.

Mas no fundo eram ótimas pessoas, solidários, fraternos e estudiosos. Também tomávamos café na austera sala de refeições com pão feito em casa, manteiga e doce de lata de goiabada. Certa feita um dos frades fugiu com a organista da Igreja e casaram. Foi um acontecimento inusitado na paróquia. Eu o conheci muito bem, pois ele foi um dos chefes de nossa tropa escoteira.

O tempo passou hoje ele está beirando os noventa anos, é professor universitário aposentado, vive com sua família e filhos e é meu amigo inesquecível. E continua servindo do seu próprio modo o Senhor Deus. E por que estou dando este introito na crônica de hoje? Porque o Presidente Bolsonaro ao formalizar no Congresso Nacional a reforma da Previdência, nos moldes em que ela foi costurada, entrou no “campo de pelada” para disputar um jogo duríssimo.

E ninguém vai benzer suas feridas e nem confortar a sua alma. Pois os adversários são velhas raposas com pele de ovelhas e todos sequiosos em tirar o máximo proveito das negociações de seus votos. Sem a oferta mínima de um cargo em comissão para presentear seus ungidos políticos, não haverá concordância.

E o Maia como chefe da alcateia sabe como ninguém tirar leite do asfalto com propostas indecorosas e oportunistas. E os partidos “dos contra” receberão adesões que jamais sonharam ter um dia; os sindicatos serão ressuscitados e até o MST será lembrado para orquestrar badernas pelas ruas.

Quando se trata de reformar a previdência o tema em qualquer parte do mundo gera polêmica e baderna. E não seremos exceção. O Governo terá que agir com muita cautela e dose de paciência para suportar as críticas dos jornalistas da grande imprensa, do FHC em particular e dos inimigos declarados das cores verde e amarela. Será uma disputa sem ética e dolorosa.

E com certeza não será servido entre a disputa nem um café com pão, manteiga ou goiabada. A reforma será extraída a fórceps e muitos protagonistas do jogo bruto não resistirão até o apito final. Parece que para todos os lados a sorte está lançada, como disse na História  o general Júlio César quando ousou atravessar o rio Rubicão para chegar a Roma... 

“A reforma da Previdência equivale a um prato indigesto servido para atletas olímpicos antes das competições. É difícil de digerir e não tem boa aparência. A sorte está lançada!”
Edson Vidal Pinto

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