Edson Vidal

Os Problemas de Cada Um.

A vida nem sempre é um jardim de rosas, ela também tem muitos espinhos e percalços. Ninguém pode dizer que nunca foi sobressaltado por um pesadelo e momentos de profunda tristeza. E o engraçado é que a pessoa quando envolta em problema acha que o seu é  maior do que de qualquer outra, mesmo desconhecendo pormenores.

E tem indivíduos que vivem dramas tão sérios e nem deixam transparecer. Dias atrás na “Academia do Coração” do Hospital Costantini, conversei com um senhor octogenário e que também é frequentador assíduo da “senzala” e que é reconhecido por todos como uma das pessoas mais alegres pela disposição e brilho que dá com sua presença.

E numa certa manhã eu tive o privilégio de estar sentado ao seu lado, quando vagarosamente fazíamos bicicleta, e passamos a conversar.

Exteriorizei minha satisfação de poder conversar com ele, realçando o seu espírito alegre e comunicativo, foi quando fiquei surpreso com sua resposta:
- Pois, é. Sorrio para não chorar! - respondeu.

Apesar de não ser a resposta que esperava ouvir, fiquei calado. Foi ele que prosseguiu:
- Minha vida praticamente teve um golpe trágico há quarenta e dois anos atrás quando meu filho então com vinte e dois anos de idade, de automóvel, após deixar minha mulher na Igreja estava trafegando pelo bairro da Vila Izabel, bem aqui pertinho do hospital, quando sofreu uma colisão frontal com um carro em alta velocidade que estava sendo dirigido por um assaltante que fugia da perseguição policial. 

Fiquei ouvindo:
- Meu filho foi levado ao hospital Evangélico em estado de coma; depois de dois meses de internação saiu tetraplégico e com dificuldade para falar.

Permaneci silente, entristecido com o relato.
- Ele mora comigo e minha mulher e não pode sair da cama. Só a família consegue entender o que ele fala...
- O senhor tem mais filhos?
- Dois: uma mulher e mais um homem, este mora no exterior. A minha filha, casada, é que ajudo eu e minha mulher a cuidar do nosso filho.

Meu Deus, que tragédia na vida daquele homem tão alegre que contagie a todos que estão ao seu lado; é aquele velho ditado: “quem vê cara, não vê coração”. Desde então passei a enxergar aquele senhor como uma figura ungida pelo Criador, um homem na acepção do termo.

Quando estamos juntos procuro transmitir todo o otimismo, mesmo quando não tenho motivos para tal. Ele passou a ser meu herói anônimo, sem que perceba. Pois é assim mesmo a vida: muitos não têm pelo que se lamentar e procuram sarna para se coçar, e outros que parecem levar o fardo de problemas nas costas, simplesmente enfrentam o dia a dia com galhardia de vencedores.

É a natureza humana. Uns enxergam problemas onde não existe, fazem de um pingo d’água um tsunami e buscam por todos os meios achar a mina da infelicidade.

Outros que vivenciam os dramas e parece não dispor de um único é diminuto buraco para entrar no céu, irradiam a alegria de viver e de poder ser útil. Como os indivíduos são diferentes entre si, cada qual com suas idiossincrasias e seus egoísmos.

As pessoas são verdadeiros cofres fortes fechados hermeticamente entre si e protegidos por uma chave com segredos, cada voltada ao seu pequeno mundo. Bom seria se cada um de nós estivesse de braços abertos para o universo espargindo solidariedade, compreensão e amor ao próximo.

Sei que é utopia imaginar este rompante de bondade porque estaríamos fragilizados no dia a dia para enfrentar a indiferença humana. Se pelo menos tentássemos esboçar nos lábios um tímido sorriso para quem passa ao nosso lado, com certeza poderíamos com isto demonstrar que também somos gente. Será que vale a pena? Não sei. Mas não custa tentar para adoçar um pouco o amargor daqueles que precisam de um pequeno  sinal de solidariedade... 

“Uma unha encravada dói e transtorna a vida de quem tem. Tem gente que acha que isto é um drama, quase uma tragédia. São os pobres de espírito. Não sabem o que é verdadeiramente sofrer. E quem sofre tem sempre a grandeza de não sucumbir, pela força que vem do céu!” 
Edson Vidal Pinto

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