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O novo e maravilhoso
mundo dos games
Por Paulo Perrotti
E
m uma visão superfcial, seria muito simples reduzir os jogos eletrônicos, ou games
como são comumente conhecidos pelos afcionados, a códigos binários que podem
ser lidos e decodifcados em equipamentos eletrônicos ou qualquer outro tipo de
dispositivo assemelhado, tais como os tradicionais computadores ou os mais modernos
celulares smartphones, tablets ou consoles próprios de vídeo game, dentre eles os mais
conhecidos PlayStation ou XBox. De fato, tecnicamente, os games não passariam de pro-
gramas de computador que serviriam basicamente para nos divertir e entreter, de uma
forma despretensiosa e sem compromisso.
Mantendo-se ainda uma abordagem simplista a respeito do tema, chegaríamos à conclu-
são de que apenas a Lei de Software (Lei 9.609/98) seria o único e exclusivo dispositivo
legal adequado para regular os games, em todos os seus âmbitos e circunstâncias.
Afnal, é assimque omercado tradicional de tecnologia encara os jogos eletrônicos: como
uma criação composta meramente de códigos fonte, desenvolvida principalmente por
empresas de Tecnologia da Informação, personifcada em um Software e fruto dos esfor-
ços de dezenas de desenvolvedores tecnólogos formados em informática.
Entretanto, não é só assim que os mercados mais modernos encaram os games, confor-
me foi possível constatar na mais recente missão brasileira de desenvolvedores de jogos
eletrônicos ao Canadá, liderada pela Abragames e que contou com a participação da Câ-
mara de Comércio Brasil Canadá, com destaque para a participação da delegação em um
dos mais renomados e representativos eventos do mundo a respeito do assunto: o MIGS
– Montreal International Game Summit.
A verdade é que o MIGS evidenciou aos participantes, de uma forma direta e objetiva, as
mais diversas e criativas faces do que seria um game. De fato, nos bastidores, são empre-
gados roteiristas, atores, designers, sonoplastas, produtores, psicólogos, pesquisadores
e até mesmo advogados, dentre uma enorme gama de profssionais, que visam identi-
fcar, estudar, interpretar e codifcar as mais diversas formas de emoção e sentimento,
traduzindo-as em jogos eletrônicos, com o fm de seduzir o usuário e transportá-lo a um
novo mundo de sensações e experiências.
Neste panorama, o desenvolvedor de software, como conhecemos, temuma relevância rela-
tivizada, já que são empregados inúmeros tipos de conhecimento e expertise para a concep-
ção de um jogo eletrônico, gerando um ecossistema heterogêneo e propício para a explora-
ção e desenvolvimento de ummercado, cuja sinergia ainda é pouco compreendida no Brasil.
Não é difícil constatar que o mercado de games é capaz de gerar e manter os mais diversos
tipos de emprego. Trata-se de uma economia limpa, criativa e sustentável e que desenvolve
também subprodutos, tais como o licenciamento de personagens, produções áudio-visuais
tais como flmes e desenhos, brinquedos, roupas, colecionáveis e até alimentos.
Por isso é que a maioria dos aplicativos eletrônicos mais modernos utiliza uma floso-
fa chamada “gamifcation”, ou seja, exploram o uso de técnicas e mecânicas de jogos, 
como a teoria da diversão e a recompensa positiva, para melhorar em relação às aborda-
gens tradicionais de qualquer tipo de serviço ou aplicação comercial, sobretudo no que
se refere a envolver pessoas em processos seletivos e metas de produção, a se familia-
rizarem com novas tecnologias, agilizar seus processos de aprendizado ou treinamento,
desenvolver suas competências e tornar mais agradáveis tarefas consideradas tediosas
ou demasiadamente repetitivas.
A conclusão é que omercado de jogos eletrônicos, ou games, transcende omundo da tec-
nologia, sendo o principal protagonista de uma emergente Indústria do Entretenimento,
que envolve também a Cultura, a Arte e a Educação. O Brasil terá de acompanhar essas
tendências, com políticas de incentivo que entendam essas diferentes demandas e criem
oportunidades para este novo mundo, que é irreversível e veio para fcar.
Paulo Salvador Ribeiro Perrotti é advogado, especializado
em Direito de Informática e Mercado Financeiro
Divulgação