Revista Ações Legais - page 116-117

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ESPAÇO DAS LETRAS
ESPAÇO DAS LETRAS
VOLTA AO PODER – A CORRESPONDÊNCIA
ENTRE GETÚLIO VARGAS E A FILHA ALZIRA
(1946-1950)
Adelina Novaes e Cruz e Regina da LuzMoreira,
organizadoras, Editora FGV e Editora Ouro sobre Azul,
420 páginas (Volume 1) e 492 páginas (Volume 2), R$
145,00
Um conjunto de 568 cartas inéditas trocadas pelo ex-
-presidente Getúlio Vargas e sua filha Alzira Vargas,
entre 1946 e 1950, compõe o livro Volta ao Poder – A
correspondência entre Getúlio Vargas e a filha Alzira
(1946-1950), uma coedição lançada pela Editora FGV e
pela Editora Ouro sobre Azul. A correspondência, dis-
tribuída nas 1.650 páginas que integram os dois volu-
mes da publicação, pertence ao arquivo de Alzira Var-
gas, doado ao Centro de Pesquisa e Documentação de
HistóriaContemporâneadoBrasil daFundaçãoGetúlio
Vargas (FGV CPDOC).
As cartas foramescritas no período emque Getúlio se distanciou do poder. Deposto emoutu-
bro de 1945, o ex-presidente foi para São Borja, no Rio Grande do Sul, enquanto Alzira perma-
neceu no Rio de Janeiro. Mesmo com o afastamento, os dois mantiveram contato constante
durante cinco anos. Alzira passou a intermediar questões familiares aomesmo tempo emque
organizou a volta de Getúlio ao poder, em 1950, eleito democraticamente por voto direto.
O teor das mensagens variava dos pedidos dos mais íntimos como charutos, remédios, revis-
tas e roupas, a temas políticos como composições partidárias, candidaturas, posturas e atitu-
des de correligionários e inimigos políticos. Uma das cartas demaior valor histórico é a de 3 de
outubro de 1950, quando Alzira contou ao pai sobre o andamento das eleições naquele dia.
Nessa data, ela votou pela primeira vez.
OrganizadaporAdelinaNovaeseCruzeReginadaLuzMoreira, coordenadorasdoFGVCPDOC,
a obra contém um acervo relevante para o entendimento do que ocorreu naquele momento
no Brasil. Alémda transcrição integral das cartas, o livro traz um texto inédito do crítico literá-
rio e sociólogoAntonioCandido (Prós e contras) e centenas de imagens – entre cartas, panfle-
tos e fotografias do acervo do FGV CPDOC.
da comunidade), que defende abolição das fronteiras e a ideia de concidadãos”.
Sobre o autor
-FrancisWolffnasceu na França em1950. É filósofo e professor da EcoleNorma-
le Supérieure (Paris). De 1980 a 1984, lecionou Filosofia Antiga na Universidade de São Paulo.
É autor de diversas obras, dentre as quais se destacam Sócrates (Brasiliense, 1982), Dizer o
mundo (Discurso Editorial, 1999), Aristóteles e a política (Discurso Editorial, 1999) e Nossa Hu-
manidade (Editora Unesp, 2013).
TRÊS UTOPIAS CONTEMPORÂNEAS
FrancisWolff, tradução deMariana Echalar, Editora Unesp, 120
páginas, R$ 38,00
“Estamos cansados das utopias literárias e dos devaneios sobre
a Cidade ideal: as utopias em ação que foram os totalitarismos
do século XX nos nausearam.” Essa é a base do pensamento do
filósofo e professor da E´cole Normale Supe´rieure, em Paris,
Francis Wolff, que destrincha as utopias atuais em “Três utopias
contemporâneas”.
Segundo o autor, as antigas utopias falavam da rejeição do pre-
sente e do real: “Existe omal na comunidade dos homens”. Mas
não lhe contrapunhamo futuro nemo possível; elas descreviam
um impossível desejável. Desde Fourier até os marxistas científi-
cos comoMarx e Engels, esses utopistas “eram revolucionários quando não eram realistas, e
quando eram realistas não eram revolucionários. Nunca visarama eliminar oMal para sempre
e derrubar as comunidades políticas existentes para instaurar o Bem”, explica na Introdução.
Ao longo dos três capítulos seguintes, ele apresenta três utopias contemporâneas. A primeira
é a pós-humanista, que acabou por instalar o reino dos direitos individuais, “pois não deseja-
mosmais umEstado ideal que nos una e nos faça umnós, umnós inédito, umnós que seja um
nós mesmos: esperamos somente que esse Estado nos deixe em paz, cada um por si, e nos
permita realizar as aspirações individuais a que acreditamos ter direito”.
A segunda utopia é a animalista, herdeira das grandes esperanças de libertação coletiva do sé-
culo XX. Ela sonha comumnovo ‘nós’, uma nova comunidade alémda política, a comunidade
de todos os animais sensíveis.
Wolff então aponta que, a partir destas, “sonhamos para o homem um futuro divino ou um
destino animal” e questiona se “haveria lugar para uma utopia humanista entre essas duas
utopias anti-humanistas?”Propõeentãoque se adoteumapostura cosmopolítica, umautopia
a ser inventada e que seria, ao seu ver, o estágio superior do humanismo, a reconciliação do
animal político com o animal falante. “O cosmopolitismo se alimenta de diversas realidades
opostas”, pontua.
Se, por um lado, as imigrações estão crescendo em todas as direções e em nível planetário,
por pressão das guerras, dos conflitos, do aquecimento global e, sobretudo, da miséria., por
outro, as fronteirasestãose fechando, gerandocriseshumanitárias. Emtermosde representa-
ção, tem-se tambémdois fenômenos opostos: Por um lado, os nacionalismos populistas estão
avançando em quase todo o mundo, acelerando as políticas anti-imigratórias e as ideologias
xenofóbicas. Mas, por outro, o sentimento de estraneidade está diminuindo com a mundiali-
zação e a cosmopolitização.
Diante deste cenário, Wolff defende uma terceira utopia, a cosmopolítica, que se caracteriza
“pela éticada justiça (uma éticada terceirapessoabaseadana troca ena reciprocidadedentro
1...,96-97,98-99,100-101,102-103,104-105,106-107,108-109,110-111,112-113,114-115 118-119,120-121,122-123,124-125,
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