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o “macacão” e muitos homens o “avental”, o que não signifca dizer que haja uma pre-
dominância ou hierarquia entre homem e mulher, mas tão somente escolhas de papéis
que independem do gênero, não consigo vislumbrar qualquer diferença de capacidade
intelectual, psicológica, espiritual ou física, quanto ao desempenho no trabalho ou nas
posições de liderança entre homens e mulheres.
AÇÕES LEGAIS - Por que as mulheres advogadas não disputam a presidência da OAB nos
estados?
IVERLY
- De fato, das 27 Seccionais existentes no Brasil, nenhuma delas tem como presi-
dente uma mulher, e apenas em seis delas, uma mulher ocupa o cargo de vice-presidente.
No entanto, nos quadros da OAB Paraná, esta situação está se modifcando com muita
rapidez. Na formação do Conselho da Seccional, o número de mulheres é crescente e não
tarda, imagino eu, a ultrapassar o número de homens. Na estrutura da Instituição, 20%
das 62 Comissões já são presididas por mulheres e, na sua composição, a predominância
é feminina. Mas não podemos desprezar o fato de que existe um maior número de advo-
gados homens do que mulheres. No entanto, o maior empecilho que vislumbro ainda é a
falta de ambição, decorrente de uma cultura arcaica da nossa sociedade, que se desen-
volveu com a ideia de submissão da mulher aos ditames patriarcais, onde ela era educada
para se dedicar aos afazeres domésticos, ao marido, à família. Por óbvio, esta maneira de
pensar, não soterrada no passado, está cada vez mais distante da nossa realidade. Espero
que, minha presença na presidência da OAB Paraná, seja o início da quebra de um para-
digma, servindo de incentivo para que novas mulheres assumam novos encargos.
AÇÕES LEGAIS - Se discute tanto o fm de toda e qualquer discriminação da mulher, a dra.
acha que projetos e ações estão no caminho certo pra a equidade de gênero?
IVERLY
- Acredito que muitos projetos institucionais, políticos e sociais, visando a acabar
com a discriminação de gênero estão sim no caminho certo. A OAB, por exemplo, atra-
vés de suas comissões específcas (Comissão da Mulher Advogada, Comissão de Defesa
dos Direitos Humanos, Comissão de Diversidade Sexual e da Comissão de Estudos sobre
Violência de Gênero, Comissão de Advocacia Criminal, Comissão de Estabelecimentos Pri-
sionais e da Comissão de Advogados Iniciantes), vem realizando intenso trabalho neste
sentido, desenvolvendo projetos que busquem por fm de uma vez por todas, a qualquer
forma de discriminação, estamos cumprindo a Constituição e, portanto, o Estado Demo-
crático de Direito.
AÇÕES LEGAIS - O que precisa mudar para que a mulher tenha mais participação, poder de
decisão nas mais diversas áreas?
IVERLY
- Falta pouco para que a mulher não necessite servir de destaque ao assumir um
cargo de liderança, como sendo algo extraordinário. No entanto, ela ainda precisa ade-
quar sua mentalidade. A mulher já sabe que é capaz de realizar qualquer trabalho e de
ocupar qualquer cargo, seja ele de liderança ou não. Talvez, haja a necessidade de a mu-
lher dedicar mais do seu tempo ao desempenho de um trabalho competitivo, participan-
do comuma postura mais audaciosa, nos mais diversos setores profssionais, seja na OAB,
nos altos escalões do governo ou também nas unidades jurídicas de grandes empresas.
AÇÕES LEGAIS - Fala-se muito em empoderamento da mulher. A dra. tem algo a dizer sobre
o assunto?
IVERLY
- Apenas dizer que relatos históricos demonstram que o empoderamento da
mulher já ocorre desde a idade antiga, com figuras que marcaram a evolução cultural
da humanidade, mostrando que sempre conseguiu desenvolver grandes feitos sociais
e expressivas modificações culturais. A essência feminina é rica na capacidade de do-
mínio e transformação, bastando por em prática sua capacidade de criar e realizar.
Porém, acredito que a ocupação de espaços pela mulher não é questão de empodera-
mento, mas de participação e colaboração. A mulher quer participar, quer colaborar.
AÇÕES LEGAIS – Considerações finais.
IVERLY
- No contexto social, a imagem da mulher deixou, a meu ver, de merecer um
destaque como alguém frágil, que necessite de uma oportunidade. A mulher merece
sim, ser lembrada pelos seus feitos como todo ser humano, pois somente assim po-
deremos atingir a igualdade de gênero ou de oportunidades tão almejada.
Heloisa Rego