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emquestão práticas do cotidiano. “Por meio da biografia você acaba aprendendomuita coisa,
não somente restrito à história em si. Como tenho formação de economista, essas coisas me
interessam, gostode saber como era a economia de outros tempos, comoos chefes de Estado
resolveram determinados problemas. A história vem te dizendo. É aquele negócio que o Niet-
zsche dizia: quanto mais se muda, mais é a mesma coisa. No fluxo e refluxo do livro, você vai
chegar à conclusão de que o que mudou? A paisagem, o cenário, a decoração e a maneira de
vestir. O homem em si continua omesmo. O que temde errado, continua igual”.
Escritores preferidos
Entre os prosadores, Eça de Queiroz é considerado “omáximo” pelo professor, que leu toda a
obra do escritor português ainda na adolescência. “Papai dizia que o português bemescrito era
o de Portugal. Então fazíamos uma espécie de campeonato, sabíamos de cor ummonte de coi-
sas dos livros dele.” Seguindo a recomendação do patriarca, Sansão foi fundo na tradição literá-
ria de nossos colonizadores, mandando ver doses cavalares de Camões, Padre Antonio Vieira e
Camilo Castelo Branco.
Outra paixão arrebatadora de Sansão foram os hispano-americanos dos anos 1970, a turma de
Gabo, Vargas Llosa e Onetti, que agitaram a cena literária latino-americana com obras podero-
sas como Cem anos de solidão e Junta cadáveres. “Um amigo chamado Claudio Lacerda, que
estava sempre viajava para os países de língua espanhola, me traziamuitos livros. Então li todos
os grandes quando eles estavam lançando seus livros. Borges, Onetti, Roa Bastos”, diz Sansão,
que alémda línguamãe, lê emespanhol, francês e inglês.
Mas claro que a literatura brasileira não foi negligenciada pelo leitor Sansão, que leu comdevo-
ção todo os grandes escribas brasileiros, comespecial entusiasmo por Graciliano Ramos. “Com
o Graciliano cheguei a ousadia de fazer um argumento para Vidas secas. Mas o Nelson Pereira
doSantosme furou. ComMemórias doCárcere foi amesma coisa.”OroteirodeVidas secas não
saiu, mas Sansão acabou cometendo um outro roteiro, inspirado em uma figura lendária que
perambulava pela famosa BocaMaldita, no centro de Curitiba. Esmaga ou opinião universitária
se baseava nas histórias de Alvino Guimarães da Cruz, conhecido como Esmaga, que segundo
Sansão, “vivia filando uns trocados dos conhecidos e estava sempre disposto a destilar sua filo-
sofia. O Esmaga era umespetáculo.”
Entre 1957 e 1958, o professor Sansão passou uma temporada nos Estados Unidos. Estudava
em Greenwich Village, o bairro boêmio e artístico de Nova York que Holden Caulfield, o perso-
nagemde O apanhador no campo de centeio, de J. D. Salinger, perambula após ser expulso da
escola. “Tive um contato com a literatura americana que estava sendo feita à época. De John
Steinbeck aPhilipRoth”. Eraoprenúnciodeuma vidade leituraqueprometia—e se confirmou
—ser brilhante.
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