Intimidação pela violência

Tem pessoas que falam tanto em repressão, censura, perda da liberdade de ir e vir e patrulhamento político-ideológico dos chamados “Anos de Chumbo” do regime militar no Brasil, porque não sabem e nunca viveram realmente o que é uma ditadura de verdade, aquela em que a oligarquia dominante mata e atemoriza todos para se manter no poder. 

Na chamada “revolução brasileira” só foram perseguidos os que agiram ostensivamente ou apregoaram ideologia obtusa, tudo através de pequenos grupos de indivíduos que se insurgiram sem apoio popular e quiseram implantar uma nova ordem de utopias e devaneios. Quem conhece um pouco de história sabe o porquê da Revolução Espanhola iniciada por guerrilheiros anarquistas propiciaram a violenta reação da direita do general Franco. Em suma: toda ação encontra uma reação. 

É por isso que sempre me questionei no período da Alemanha Nazista porque os Juízes e o povo não reagiram à política do Nacional Socialismo, liderado por um psicopata como Hitler? É sabido que na época, os melhores pensadores e juristas do mundo estavam na Alemanha -, eles eram doutrinadores da ciência do Direito, estudiosos, exegetas e os mais capacitados professores de todo o mundo. 

E por que não reagiram contra a opressão que fulmina a própria essência do Direito? E por que seus Juízes se calaram? As atrocidades dos campos de concentração contra os judeus arranharam para sempre a própria humanidade e legaram uma herança que denegriu toda a raça humana. O genocídio é um crime doente porque inoculado pelo ódio e perversão moral. E por que tanta omissão do povo alemão que sabidamente não era unanimidade no apoio das ideias nazistas?

Esta sempre foi minha dúvida. Dias atrás fui na Livraria Curitiba do Shopping Barigui e encontrei um livro cujo título me chamou a atenção: “Morrer Sozinho em Berlim” de Hanz Fallada, da Editora Estação Liberdade, com 636 páginas, escrito pelo autor em menos de 30 dias e somente editado depois de sua morte ocorrida em 1.947. Ele datilografou 36 páginas por dia e só depois da reunificação da Alemanha o autor foi reconhecido como um dos cinco melhores escritores do país. É um documentário do período da II Guerra Mundial e ao mesmo tempo um romance, cujo teor verdadeiro traz a nu a história da resistência alemã aos nazistas. 

Em cada capítulo o leitor adentra na cidade de Berlim e começa a sentir a opressão do regime sobre o povo e autoridades, bem como, a intimidação e a violência que reduz o ser humano a se omitir de tudo com receio de perder a própria vida. Vale a pena ler para reflexão. É uma leitura tensa e que para mim respondeu suficiente à dúvida comportamental que eu tinha do povo e de seus verdadeiros Juízes. 

Estes mencionados na figura de um velho Magistrado aposentado, que sempre cumpriu sua tarefa de julgador com absoluta imparcialidade e em obediência a lei, mas que nunca comungou com a Nova Ordem. Daí sua aposentadoria compulsória. Para quem gosta da verdade, vale a pena ler o livro...

“É pena que o livro físico esteja morrendo a cada dia que passa. Mas enquanto ele for editado vale ter ele nas mãos, folhear suas páginas, digerir e sentir a importância do seu conteúdo”.

Edson Vidal Pinto