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EDITORIAL
Desafios para depois da crise
P
ara o economista José Pio Martins, reitor da Universidade Positivo, o caráter mundial da pande-
mia, a parada na economia, a perda de empregos, a debilitação financeira das empresas e das
famílias, o empobrecimento, a destruição temporária do convívio entre as pessoas e o dano
psicológico são aspectos do cenário atual como nunca o mundo havia experimentado.
Ele diz que as dimensões do acontecimento são sanitárias, econômicas, psicológicas, sociológicas,
políticas, religiosas, culturais, entre outras, que deixarão marcas para sempre em todos os setores.
O professor enumera e explica seis mudanças que vieram para ficar e outras que serão impostas à
nova sociedade.
Aldeia Global
- essa expressão foi utilizada pelo filósofo canadense Herbert Marshal McLuhan, edu-
cador e teórico sobre comunicação. O mundo caminharia para um mercado único e integração ace-
lerada entre as nações. Atualmente, a quarta revolução tecnológica vem apressando a integração
mundial e, se queremos a integração dos países para que todos desfrutem das conquistas da ciência
e da tecnologia, a primeira lição é: devemos nos preocupar com o mundo inteiro, logo a fome na
África e a miséria nas favelas do Brasil são problemas de toda a humanidade.
Desigualdade tolerável
- a desigualdade de renda pode ser tolerável, desde que as camadas mais
pobres tenham o necessário para uma vida digna. Na Dinamarca, a mais pobre das famílias não con-
dena os ricos, pois ela tem habitação digna, alimentação adequada, educação, saúde, assistência e
lazer. Se a desigualdade resulta em hordas de pobres e miseráveis, ela não deve ser tolerada.
Meio ambiente
- em 1930, o mundo tinha 2 bilhões de habitantes. Em 2050, a expectativa é que te-
nha 9,5 bilhões. Quanto maior a população, maior deve ser o cuidado com a natureza. Quando cres-
ce a necessidade de meios de vida, crescem as exigências de respeito à natureza e preservação do
meio ambiente..
Consumo
- de acordo com a FAO, agência das Nações Unidas preocupada em erradicar a fome, 10%
de todos os alimentos consumidos no Brasil são desperdiçados, enquanto todos os dias 870 milhões
de pessoas passam fome no mundo. O consumismo atual é destrutivo e insustentável. O ser humano
tem o desafio de aprender a tirar de fatores psicológicos e sociais as fontes de seu gozo, prazer e
felicidade, e não do consumismo de coisas e mais coisas.
Distribuição de renda
- o desemprego não deve ser admitido e, quando inevitável, uma renda básica
deve ser garantida. Não dá para confiar ao Estado a operação de arrecadar e distribuir. Inchado, ine-
ficiente e corrupto, o governo na maior parte do mundo usa o dinheiro público primeiro para pagar
a si mesmo, suas mordomias, seu excesso de funcionários e castas abastecidas com salários, bene-
fícios, aposentadorias e pensões milionárias. O Estado tem que ser reformado; enquanto não for, é
preciso achar outro mecanismo para fazer a distribuição.
Substituição do emprego pela tecnologia
- é ingênuo achar que os computadores vão tomar o lugar
dos líderes. Como disse o filósofo André Comte-Sponville, um computador pode resolver um proble-
ma, mas só um ser humano pode tomar uma decisão. Se a humanidade substituir os trabalhadores
por robôs cognitivos, deve ser criado um tributo sobre os robôs para pagar salários aos que perde-
ram a vaga para a máquina. A ideia parte de um aspecto óbvio: robô não consome, logo não haveria
por que produzir comida, roupas, livros, músicas, carros etc. Robôs não usam essas coisas. Eles só
precisam de um botão que os liga e energia que os põe em movimento. A economia, o trabalho e a
produção são para o ser humano e demais seres vivos.