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DISCURSO
Íntegra do discurso do desembargador Adalberto Jorge Xisto Pereira, por ocasião
da entrega da Medalha do Mérito Eleitoral das Araucárias ao ministro Luiz Fux.
Autoridades já nominadas, senhoras e senhores,
O médico japonês Shirobei Akiyama, observando o cair da neve sobre as árvores perce-
beu que os galhos mais fortes não suportavam seu peso e acabavam por quebrar, en-
quanto os mais fracos, mais finos e flexíveis, faziam com que a neve escorresse e assim
não se rompiam.
Diante dessa análise, o médico interessado em desenvolver uma luta que não buscasse
ofender seriamente o adversário, mas subjugá-lo com o menor gasto de energia, acabou
por criar mais de 300 golpes de Jiu-Jitsu, enaltecendo definitivamente essa modalidade
esportiva cujo significado ortográfico é “a arte da brandura”.
Desse modo, criou-se o postulado basilar dessa arte marcial que, diante de uma obser-
vação de toda a estrutura do oponente, emprega-se a força e, quando possível, a força
do próprio adversário em alavancas, possibilitando ao lutador, mesmo com compleição
física inferior, conseguir vencer a disputa.
Não é por acaso que o Jiu-Jitsu é chamado de “xadrez do corpo”, pois não é preciso que-
brar o pescoço do adversário para provar que se pode vencê-lo. É necessário, apenas,
saber que se pode vencê-lo.
A filosofia do Jiu-Jitsu talha um perfil aguerrido nos praticantes, forjando coragem na
personalidade e grande disposição para os enfrentamentos da vida.
* * * * * *
Filho de Lucy e do advogado e contador Mendel, imigrante romeno naturalizado brasi-
leiro, nasce no Rio de Janeiro, em 26 de Abril de 1953, o nosso homenageado, o Ministro
Luiz Fux.
De origem judaica, seus avós paternos vieram para o Brasil exilados da guerra e da per-
seguição nazista. Só se reencontraram depois de 03 anos separados. As dificuldades das
perseguições sofridas por sua família na Europa, aliadas às difíceis condições disponí-
veis à época aqui no Brasil, nunca ofuscaram o sentimento de gratidão pelo acolhimento
em nosso país.
Tanto assim, que depois de estabelecidos junto à comunidade judaica do bairro do An-
daraí, logo passaram a dar significativas retribuições à comunidade. Seu avô assumiu a
direção de uma entidade que atendia idosos desvalidos, e sua avó passou a dirigir o Lar
das Crianças Israelitas, que recolhia infantes abandonados.
Por parte de mãe, o Ministro Luiz Fux é neto de Luiz Luchnisky, Juiz Arbitral da Comuni-
dade, homem que, segundo contam, era extremamente justo e culto, com reconhecida
sensibilidade e senso de caridade. Embora não o tenha conhecido, é provável que dele
tenha herdado sua afeição pela Justiça.
O Ministro Luiz Fux, diante desse panorama, certamente não contou com as facilidades
daqueles cujos pais ocupavam posições de destaque e influência na sociedade carioca
daquela época.
Sua carreira de sucesso e conquistas contou com esforço próprio. Começou muito cedo
quando, ainda criança, ingressou no prestigiado Colégio Pedro II, escola de ensino públi-
co cuja qualificação era muito destacada.
Foi dali que se alicerçaram as bases para os ingressos que se seguiram, sempre em 1º
lugar, seja na Universidade Estadual do Rio de Janeiro, seja no Ministério Público, assim
como na Magistratura.
Teve a felicidade de integrar a juventude dourada do Rio de Janeiro na década de 70.
Esportista por vocação, foi surfista amador, praticante de artes marciais (em especial
do Jiu-Jitsu) e músico com atenção voltada à guitarra.
Certamente guarda na lembrança um lugar especial desse tempo de glória e juventude,
seja pela memória do pôr do sol sobre o extinto Píer do Arpoador, seja pela música que
se tocava no Circo Voador...
Sua passagem pelo primeiro grau da Justiça Comum e Eleitoral do Rio de Janeiro, em
especial na 9ª Vara Cível, rende as melhores lembranças de todos aqueles que tiveram o
privilégio de compartilhar o seu convívio.
Naquele tempo, os processos eram distribuídos na Vara entre os serventuários da Justi-
ça, chamados à época de escreventes. Os advogados, estagiários e interessados não se
restringiam a um balcão único de atendimento, porque não existia; entravam todos à
procura do escrevente designado do seu processo, e nas horas de maior movimento se
acotovelavam a gritar em leilão pelo atendimento do servidor.
O homenageado que a tudo assistia do seu gabinete, sempre com as portas abertas,
não se furtava em receber essas pessoas a todo momento, nem tão pouco em interce-
der quando os ânimos se exaltavam. Ao contrário de outros cartórios em que a mesma
situação acontecia, ali na 9ª Vara Cível era sabido que seriam atendidas, e melhor ainda,
pelo Juiz de Direito, se necessário fosse.
Cogitava-se, em tom de brincadeira, que o Ministro Luiz Fux usava seu quimono de Jiu-
-Jitsu sob a toga diante da sua disposição de vencer as adversidades utilizando duas ar-
mas: o seu conhecimento e o seu poder de convencimento. Ou quem sabe sua bermuda
de surfista, ou até a sensibilidade de músico para contornar aquelas dificuldades que
cresciam repentinamente a sua frente como uma “onda do mar de inverno” de Copaca-
bana.
Acendeu ao cargo de Desembargador do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro em 1997.
Em curto período, já em 2001, devido a sua reconhecida competência e cultura jurídica,
foi nomeado para ocupar o cargo de Ministro do Superior Tribunal de Justiça pelo terço
destinado a desembargadores de Tribunais de Justiça, na vaga deixada pelo então Mi-
nistro Hélio Mosimann, que se aposentara.
No STJ, presidiu a Primeira Seção e a Primeira Turma, ambas especializadas em Direito
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