Revista Ações Legais - page 16-17

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ARTIGO
Admirável diferencial
humano
Por Idésio Coelho, presidente do
Instituto dos Auditores Independentes do
Brasil (Ibracon
E
m2017, transcorrem85anosdapublicaçãodobest
seller “Admirável mundo novo”, romance futuris-
tadoescritor inglêsAldousHuxley.Oemblemático
aniversário da obra, referencial no segmento temático
de ficção científica e política, suscita reflexões sobre o
impacto da tecnologia nas pessoas, nos processos inte-
rativos, no trabalho, nas empresas e na civilização como
um todo. O livro, num impressionante vaticínio, alerta
sobre os riscos da padronização humana, no caso resul-
tante da engenharia genética e da cibernética, na busca
utópica pela sociedade perfeita.
Pois bem, se utilizarmos a tecnologia apenas para a au-
tomação de processos e produção de modelos unifor-
mes de serviços e produtos, seremos todos iguais, na
vida e nomercado, comoosmembros das castas descri-
tas na obra de Huxley! O que nos torna únicos, diferen-
tes e, portanto, competitivos em tudo o que fazemos é
omodo como utilizamos máquinas, equipamentos, sof-
twares, aplicativos e os meios digitais para ir além, to-
mar boas decisões e encontrar soluções customizadas
e inovadoras.
Odiferencial humano torna-semais fundamental e deci-
sivoàmedidaqueatecnologiavai evoluindo, oqueocor-
redemodocada vezmais rápido. Senãoomantivermos
vivo e não o exercitarmos no cotidiano, seremos cada
vez mais previsíveis e dispensáveis, no iminente adven-
to e disseminação da internet das coisas, da inteligência
artificial, da impressão 3D e dos novos avanços da TI.
Manter o diferencial humano não significa, como às ve-
zes se interpreta, utilizar toda essa tecnologia apenas
para a automação de processos, mantendo-se as análises na base da intuição e do improviso. O
grande salto é tornar o suporte tecnológico uma ferramenta eficaz para a tomada de decisões
combase em informações concretas e abuscade soluções inovadoras. Aplica-se, aqui, o concei-
to de Business Analytics, abordagemque utiliza algoritmos avançados para processar registros
de dados, possibilitando análises seguras e amplas. As empresas estão explorando ferramentas
mais sofisticadas, inclusive que "aprendem" ao longo do tempo, como robôs e inteligência arti-
ficial, que terão impacto crescente nos escritórios de contabilidade e firmas de auditoria. Algu-
mas empresas do setor têm feito crescentes investimentos, mas é importante que, na medida
do possível, todas modernizem-se.
Devem somar-se a tudo isso, contudo, princípios éticos, conceitos de compliance e o respeito
aos bons preceitos dagovernança, às normas eàs leis. Aprevalênciade tais valores é fundamen-
tal numa era em que a tecnologia avançada também pode ser usada para a prática de fraudes,
crimes cibernéticos emanipulaçãodedados. Tais situações sãoparticularmente relevantes para
profissionais da contabilidade e auditores independentes.
Assim, não é sem razão que 89% dos entrevistados em nova pesquisa da ACCA (Association of
Chartered Certified Accountants), instituição global para a formação e educação continuada de
contadores, comsede emLondres, tenhamafirmadoque “princípios e comportamentos éticos
fortes tornar-se-ão mais importantes na era digital”. Foram ouvidas 10 mil pessoas em todo o
mundo. Oitenta por cento acreditamque os profissionais da Contabilidade que se baseiamnas
boas práticas da profissão contribuem para a capacidade das organizações de manter a ética;
e 94% defendem que, nesta era digital, ainda se apliquem os princípios do International Ethics
Standards Board of Accountants (IESBA). De fato, o Código de Ética para Contadores Profissio-
nais desse organismo é importante, sendo adotado como base para normas nacionais emmais
de 120 países, dentre os quais amaioria dos integrantes do G-20, inclusive o Brasil.
Os dados evidenciamcomclareza oque a sociedade espera de contadores e auditores indepen-
dentes, em especial no cenário brasileiro de acirrado combate à corrupção e denúncias diárias
contra autoridades, políticos e empresários. Nesse contexto, é preocupante outro dado reve-
lado na pesquisa da ACCA: um em cada cinco respondentes admitiu ter sentido pressão para
comprometer seus princípios éticos ao longo dos últimos 12 meses. Isto demonstra de modo
taxativo o significado dos diferenciais humanos da firmeza de caráter, inteligência emocional
e consciência cívica na interação com a tecnologia. São antigos valores que qualificam o novo
mundo digital!
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