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Por Edson Vidal
FLAGRANTES DO MUNDO JURÍDICO
Aparelho de Gillette nempensar, pois considero um instrumento pré-histórico e jurássico.
Meu Deus, por culpa do vírus, estou pensando em delinquir, vi na porta da entrada prin-
cipal três seguranças. De longe não pude distinguir se eles estavam pedindo certidão de
nascimento ou carteira de Identidade para as pessoas que pretendiam ingressar a fim de
conferir a idade de cada uma. Bem por isto nem me atrevi saber suas intenções se algum
“excluído” tentasse burlar a entrada. Imagino que seriam expulsos, porém os “penetras”
que não tivessem documentos seriam conduzidos para uma sala decreta para serem tor-
turados; ou quem sabe os mais insistentes pudessem ser sumariamente condenados por
um juiz de plantão.
É por isso que optei por não entrar pelo caminho tradicional da porta da frente, jamais!
Com minha mente criativa em ebulição pensei então em escalar pela parede onde tem
duas letras bê, estilizadas, uma do lado da outra, sobre uma luz verde, para sorrateira-
mente ingressar pelo telhado. Só de imaginar desisti da ideia quando lembrei que minha
labirintite se manifesta quando estou nas “alturas”. Basta subir um metro do chão e a
tontura vem do nada. Outra ideia que me ocorreu foi pedir para uma moça insinuante,
bem vestida, com maquiagem carregada no rosto, de vestido curto acima do joelho, cal-
çando botas de cor branca, que se aproximou do meu carro quando aproveitei para lhe
pedir o favor de comprar na “
Fast
” o dito cujo barbeador.
Ela prontamente aceitou. Agradecido dei para a moça mil reais em dinheiro, ela pegou
as notas com muito carinho, colocou dentro do sutien e disse que no máximo em quinze
minutos voltaria com a mercadoria. Em seguida ela entrou saltitante no Shopping. Fiquei
esperando. Putz, mas faz mais de cinco horas que moçoila de bota branca pegou meu
dinheiro e não voltou com meu barbeador.
E o pior: o shopping está fechando. Fora do carro está um frio do Alaska. E eu sem saber
o que fazer: com a barba pela metade, sem dinheiro, as luzes do shopping apagando e
tenho que voltar para casa e dizer para minha mulher que não comprei o barbeador e que
uma moça levou meus mil reais. Não sei se ela vai acreditar na história, mas por via das
dúvidas antes de chegar em casa vou passar por uma farmácia e comprar um aparelho
de Gillette. Afinal a gente não sabe quanto tempo este vírus ainda vai atrapalhar nossas
vidas; e eu nem sei se algum dia poderei entrar no shopping para comprar meu barbeador
elétrico...
“A sina do idoso é ficar em casa. Só quem precisa é que pode sair sem ficar com dor na
consciência. Mas entrar no shopping o idoso não entra de maneira nenhuma, nem para
comprar um barbeador elétrico. Até quando? Até quando? Quem tem a resposta?”