Revista Ações Legais - page 90-91

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ESPAÇO DAS LETRAS
Madre Teresa de Calcutá — uma
santa para o século XXI
Diácono Fernando José Bondan, Editora
Ave Maria, 136 páginas, R$ 27,90
Madre Teresa de Calcutá nunca escreveu
livros. No entanto, escreveu cartas, muitas
delas. Todas intercedendo pelas almas dos
mais necessitados, pregando a mensagem
do amor universal de Jesus e mesmo desa-
bafando sobre os desafios de quem esco-
lheu abnegar-se em favor do próximo. Sua
vida foi uma carta aberta.
Assim, Madre Teresa de Calcutá — uma
santa para o século XXI, escrita pelo Diá-
cono Fernando José Bondan, é uma luz so-
bre a trajetória de quem vivenciou a tota-
lidade dos ideais cristãos. O autor, através
de minuciosa compilação, organizou as
cartas da madre em temas relevantes não
só para religiosos, mas também, para os
leitores em geral.
 As cartas de Madre Teresa falam da alegria cristã, do anúncio do evangelho, da carida-
de aos pobres e enfermos, mas também discorrem sobre família, humildade, morte e
escuridão da alma.
Em seus relatos para padres, organizações e políticos, a mensagem de Madre Teresa é
uma só: “Amai ao próximo”. Em uma das cartas, presente no livro, de 2 de janeiro de
1991, Teresa de Calcutá escreve para George Bush e Saddam Hussein na iminência da
Guerra do Golfo.
“Queridos presidentes George Bush e Saddam Hussein, a vós recorro com lágrimas nos
olhos e com o amor de Deus no coração, para pedir-lhes pelos pobres e pelos que se
tornarão pobres se a guerra que todos tememos eclodir. Imploro-lhes com todo o meu
coração que trabalhem, que trabalhem duro pela paz de Deus e pela reconciliação”.
Para o Diácono Fernando José Bondan, as cartas de Madre Teresa revelam sua essência
e sabedoria em conciliar e harmonizar a vida contemplativa e a vida ativa, o que a con-
sagrou santa junto ao povo simples, apesar de ainda não ter sido canonizada pela Igreja.
Mais do que isso, Madre Teresa pregou o Evangelho de Cristo para além das amarras
religiosas, como se vê emmuitos textos do livro e a partir de sua atuação missionária na
Índia, país cuja religião predominante é o Hinduísmo. Ela citou muitas vezes Mahatma
Gandhi em seus discursos e conversas, e adquiriu respeito das autoridades e dos líderes
religiosos do país. Mais do que uma bandeira religiosa, seu foco era as almas.
Um Guarda-chuva para o dia de
hoje
Wilhelm Genazino, tradução de
Marcelo Backes, Apicuri Editora, 208
páginas, R$ 39,99
O grau de emoção ou tédio do seu em-
prego vai depender do quão inusitada
é a sua rotina profissional, e não neces-
sariamente do humor de seu chefe ou
do que disse um consultor de carreira.
Apertar parafusos das oito às cinco –
seja num chão de fábrica escaldante
ou num escritório refrigerado – cer-
tamente não apresenta um cenário
animador. Já testar sapatos de luxo
caminhando por aí pode trazer pers-
pectivas para lá de promissoras. Que
o diga Wilhelm Genazino, um desses
autores que há tempo já deveria ter
chegado ao Brasil. Ganhador de vários
prêmios – entre eles o mais importan-
te da Alemanha, o prêmio Büchner,
recebido pelo conjunto de sua obra –,
Genazino é o filósofo do marasmo con-
temporâneo, o passeador solitário dos
dias melancólicos da cidade moderna,
o ensaísta cheio de histórias do século.
Aqui, seu narrador de meia-idade trabalha como testador de sapatos de luxo na metró-
pole alemã dos negócios. No dia a dia cimentado de Frankfurt, em que todo detalhe é
um símbolo de sua aguda imaginação, este protagonista anônimo redige seus relatórios
sobre os diversos tipos de calçados e, na melhor tradição de um flâneur, conduz o leitor
por uma prosa vagueante que faz rir e pensar. Para as mulheres ele julga jamais ser bom
o bastante; da vida ele suspeita não ter recebido qualquer autorização; sobre a realida-
de ele cultiva apenas um entendimento parcial.
Ao contar o seu destino e o de outros sujeitos com seus atos aparentemente mundanos,
Genazino faz do profundo espanto que é perambular neste mundo uma marca de estilo,
e oferece uma das mais inventivas metáforas da existência do homem contemporâneo.
Escrito com humor exemplar, Um guarda-chuva para o dia de hoje toca questões deci-
sivas da atualidade, especialmente quando o cotidiano nos parece tão estranho e qual-
quer fiapo de conexão com a humanidade tão excepcional.
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