Revista Ações Legais - page 100-101

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Moçambique: o Brasil é aqui - uma
investigação sobre os negócios
brasileiros na África
Amanda Rossi, Editora Record, 405 páginas, R$
50,00
Depois de passar seis meses em Moçambique
em 2010, a jornalista Amanda Rossi retornou ao
país três anos depois para conhecer as iniciati-
vas brasileiras germinadas durante sua primei-
ra visita. Na viagem para a cidade de Moatize,
onde ocorria uma manifestação contra as re-
servas de carvão da Vale, ela teve algumas sur-
presas. O avião que a levaria da capital Maputo
para Moatize era da Embraer, a Igreja Universal
de Reino de Deus estava presente na cidade e
entre os manifestantes havia ex-funcionários
da Odebrecht. “O Brasil estava por todos os la-
dos”, escreve a autora emMoçambique: O Bra-
sil é aqui, que chega às livrarias em agosto pela
editora Record.
Aos olhos da jornalista, Moçambique é o país mais interessante para mostrar a chegada
do Brasil na África porque concentra as maiores investidas do país no continente. “Se
quisermos ver como o Planalto apoiou negócios de empresas brasileiras, nada melhor
do que observar a história do maior empreendimento do Brasil na África: a exploração
de carvão da Vale. Moçambique é ainda o país africano que mais despertou o interesse
do agronegócio brasileiro. Além disso, foi um dos países mais cobiçados pelo Brasil para
apoiar a reforma do Conselho de Segurança da ONU”, explica Amanda, que se debruçou
sobre centenas de correspondências do Itamaraty, documentos oficiais e extraoficiais
para compor a obra.
Esmiuçando os detalhes das empreitadas e das empreiteiras brasileiras em Moçambi-
que a partir do governo Lula, o livro traz à tona informações do intricado mosaico de
negócios do Brasil no país e revela questões delicadas das relações das empresas com
o governo brasileiro. O financiamento das viagens do ex-presidente para o continente
africano é uma delas. Em entrevista exclusiva para a autora, o político afirma que nun-
ca houve conflitos de interesses: “Não há conflito nem com empresa de construção,
nem com banco, nem com empresa de automóvel. Eu viajo e faço palestra gratuita para
sindicato, para comunidade base, para qualquer coisa”, declara Lula. O ex-presidente
defende ainda que além das empreiteiras, empresas de açúcar e etanol, os bancos bra-
sileiros também deveriam estar na África: “Se não for assim esses países vão ficar com
os bancos dos países colonizadores”, completa.
Quando a escritora apresenta a voz dos moçambicanos, as opiniões a respeito da ex-
pansão brasileira na região são divergentes: “Uma parcela do povo moçambicano se
decepcionou com a atuação brasileira. Especialmente quem já foi diretamente impacta-
do pelos negócios do Brasil. Outros, no entanto, “tinham confiança de que ‘os irmãos
brasileiros’ fariam diferente e apoiariam o povo moçambicano. Eu pressionei tudo que
pude, mas nada parecia abalar a fé deles no Brasil”, conta.
Moçambique: o Brasil é aqui traz na íntegra as entrevistas da autora com o ex-presiden-
te Lula, aclamado pelo povo local, e com o escritor moçambicano Mia Couto, que foi um
dos combatentes na luta pela independência e é co-autor do hino nacional do país.  O
livro revela as mais variadas nuances das relações que unem e separam os dois países.
ESPAÇO DAS LETRAS
Faísca
Antonio Skármeta, Galera Júnior
(Grupo Editorial Record), 48 páginas,
R$ 38,00
Muito conhecido pelo já clássico “O
carteiro e o poeta”, que ganhou adap-
tação para o cinema, o escritor chileno
Antonio Skármeta tem uma extensa
produção voltada para as crianças. Seu
livro “A redação”, por exemplo, ven-
ceu o Prêmio Unesco de Literatura In-
fantil e Juvenil em Prol da Tolerância. A
sensibilidade e a capacidade de tratar,
em sua escrita, de temas do cotidiano
e da história de seu país sob os olhos
inocentes das crianças estão mais uma
vez presentes em “Faísca”, que a Ga-
lera Júnior lança em novembro. Faísca
é um menino pobre, porém, inquieto,
feliz e animado. Diariamente, faz algu-
mas tarefas para Castillo, um escritor
da cidade, que lhe recompensa com
uma gorjeta. É este dinheiro que sustenta a casa em que Faísca mora com seu pai. De-
sempregado, o homem passa seus dias procurando trabalho. Já Faísca acaba sempre
procurando aventuras. Separa uma parte do dinheiro para ir ao novo carrossel da cida-
de; visita a mãe na escola onde ela dá aulas e aprende sobre cores e pintores.
Skármeta fala sobre política, família, arte e amor de modo bastante sutil e delicado. O
texto ganha muito com as belíssimas ilustrações de Cárcamo, ilustrador chileno que já
colaborou com Walt Disney e uma série de autores, de Gabriel Garcia Márquez a Eça de
Queiroz.
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