Revista Ações Legais - page 112-113

113
112
ESPAÇO DAS LETRAS
ESPAÇO DAS LETRAS
A Fé e os Direitos Humanos
João Baptista Herkenhoff, Porto de Ideias
Editora, 80 páginas, R$ 25,00
Os Direitos Humanos e os Valores Humanistas
estão presentes nas mais diversas tradições
religiosas e filosóficas da Humanidade. Eles
não são monopólio do Ocidente ou proprie-
dade cristã. As maiores religiões e sistemas
filosóficos afinam, nos seus grandes postula-
dos, com as ideias centrais que caracterizam
este conjunto de princípios que denomina-
mos "Direitos Humanos”.
A Fé é um sentimento de total crença em
algo ou em alguém, independente de evidên-
cia que comprove a veracidade daquilo em
que se crê. Há uma permanente contradição
dialética entre Fé e Dúvida, a dúvida questio-
nando a Fé e, em sentido contrário, a Fé apa-
ziguando e aquietando a dúvida.
Cada povo tem de ser respeitado na escolha
de seu destino e de suas estratégias de viver. O Ocidente repetirá hoje os mesmos
erros do passado se insistir na existência de um modelo único para a expressão e a
proteção dos Direitos Humanos.
Durante muito tempo, a Igreja Católica, que é a igreja cristã majoritária no Brasil,
esteve de costas, não só diante dos direitos humanos, mas diante da própria moder-
nidade. De certa forma, na prática, unindo-se aos poderosos, construindo capelas
em fazendas onde os trabalhadores eram explorados, celebrando casamentos pom-
posos em capelas privadas de famílias ricas e divorciadas do sentimento de Justiça
Social, a Igreja abençoava o sistema opressor.
As mudanças começaram a ocorrer com a Ação Católica, principalmente com a JUC,
e depois com as Comunidades Eclesiais de Base (CEBs). O engajamento de setores
de vanguarda da Igreja com a libertação dos oprimidos foi veemente. Por isso im-
plicou na perseguição a vários bispos e no aprisionamento de padres. Cite-se, como
expressivo exemplo, Frei Betto, frade dominicano, autor do livro Cartas da Prisão.
Nos mais diversos setores da sociedade, nos mais diversos ofícios e profissões, uma
etiqueta condenatória marcava os divergentes: subversivo, comunista, conspirador,
destruidor da família.
Cartas de um antagonista
Mario Sabino, Editora Record, 154 páginas, R$
32,90
Não há dia em que os canais de comunicação da
Editora Record não recebam pedidos por um livro
de O Antagonista. O surgimento do site, em janei-
ro de 2015, representou um evento – um marco –
para o jornalismo no Brasil. Em dupla com Diogo
Mainardi, Mario Sabino é o criador deste fenôme-
no. E a ele cabe, com grande categoria, dar res-
posta à demanda – ao desejo – do público leitor.
Neste Cartas de um antagonista, Mario – jornalis-
ta e escritor, autor, entre outras obras, do excep-
cional romance O vício do amor – reúne artigos
concebidos para a newsletter do site entre abril
e setembro de 2016. São 46 os textos que com-
põem a primeira parte do livro, “De volta”, con-
junto que reflete – de forma enxuta e acurada – sobre os meses finais de Dilma Rousseff
na Presidência da República. Mas não apenas. O assunto também é o estado mental da
nação, cuja loucura só não nos levou ao fundo do poço porque este, no Brasil, sempre
pode estar um pouco mais embaixo.
A carta que Mario Sabino escreveu para um delegado de polícia em reação a uma clara
tentativa de intimidação promovida pelo ex-presidente Lula é peça que deveria ser lida
e estudada em todas as faculdades de jornalismo do país. Mais longo, com tom ensa-
ístico, poderia, por estilo, estar na segunda parte do livro, “No exílio”, que abriga três
escritos de maior fôlego, pequenos ensaios, dois deles produzidos quando o autor era
correspondente da Veja em Paris.Sai-se da leitura deste livro – que alcança a arte de co-
brir tamanha desgraça com prosa elegante, olhar preciso e bom humor – com a certeza
de que o brasileiro, tão achacado pelos políticos e pelo Estado monumental, é um resis-
tente, um sobrevivente, e também deveria ser um antagonista.
Mario Sabino nasceu em São Paulo, em 1962. Fundou, com Diogo Mainardi, o site O
Antagonista. É autor dos romances “O dia em que matei meu pai” e “O vício do amor”
e dos volumes de contos “O antinarciso” (Prêmio Clarice Lispector da Biblioteca Nacio-
nal) e “A boca da verdade”, todos pela Editora Record.
1...,92-93,94-95,96-97,98-99,100-101,102-103,104-105,106-107,108-109,110-111 114-115,
Powered by FlippingBook