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ESPAÇO DAS LETRAS
Entre a Bíblia e a espada: uma análise da
filosofia e da teologia política em João
Calvino
Gerson Leite de Moraes, Editora Mackenzie, 248
páginas, R$ 50,00
A importância do pensamento calvinista para o
Estado moderno, passando pelas origens da vida
igualitária e laica, são o foco do livro “Entre a Bí-
blia e a espada: uma análise da filosofia e da teolo-
gia política em João Calvino”, de Gerson Leite de
Moraes, professor de Ética da Universidade Pres-
biteriana Mackenzie, campus Campinas. A obra,
que conta com a apresentação do professor Ro-
berto Romano, professor de Ética e Filosofia da
Unicamp, é publicação da Editora Mackenzie. No
livro, o autor investiga o desenvolvimento de con-
cepções calvinistas sob os pontos de vista teoló-
gico, político e filosófico. Liberdade, federalismo, democracia, valores, comportamen-
to, ética, entre outros conceitos fundamentais à civilização ocidental, foram tema de
profundos estudos de João Calvino durante sua vida em Genebra, no início do século
XVI, e refletem-se na sociedade contemporânea. A obra é indicada para pesquisadores,
professores e estudantes das áreas de filosofia, história, teologia e direito, e também se
destina aos estudiosos do protestantismo.
Por trás da máscara: do passe livre aos
blackblocs, as manifestações que tomaram
as ruas do Brasil
Flavio Morgenstern, Editora Record, 574 páginas,
R$ 60,00
Frases como “não é só por 20 centavos” e “vem
pra rua” viraram verdadeiros mantras em junho
de 2013. As manifestações que levarammilhões de
pessoas às ruas em diversos estados do Brasil co-
meçaram com o Movimento pelo Passe Livre, mas
tornaram-se algo muito maior do que isso. Na épo-
ca, analistas políticos e sociais se esforçaram para
tentar explicar o que era, afinal, aquele movimen-
to sem líderes e sem reivindicações específicas que
conseguiu juntar, num mesmo espaço, pessoas
com visões ideológicas opostas. Neste livro, Flavio
Morgenstern reconstitui aqueles dias para tentar
encontrar essas respostas.
“Ao se rever 2013 a uma distância segura, é fácil perceber que foi o ano mais incompre-
endido de toda a nossa história. Quase a totalidade das pessoas, antes tão animadas nas
ruas com a promessa de um novo país nascendo em um momento histórico, hoje se per-
gunta: o que deu errado? Por que milhões de pessoas que juravam estar mudando o Brasil
passaram a olhar manifestações políticas parando ruas com o mesmo desprezo de sem-
pre? Por que tantos ânimos exaltados com uma causa repentina uniram um país, mas não
se repetiram com outras tentativas de manifestações, que voltam a parar cidades sema-
nalmente? Mais: por que as análises atiraram para tão longe do alvo? Hoje sabemos o que
não foi aquele evento. Resta saber o que foi”, escreve o autor.
Segundo Morgenstern, as Jornadas de Junho têm relação direta com iniciativas como a
Primavera Árabe e o Ocuppy Wall Street, sendo o movimento no oriente o primeiro a ter
mobilizado um grande número de pessoas por meio da internet.
Mas para ele é a reunião de jovens em Nova York que mais se assemelha com o que acon-
teceu no Brasil, e o autor dedica toda a primeira parte do livro a destrinchar os detalhes
da ocupação do distrito financeiro da Big Apple em 2011. Uma das principais semelhanças
é que tanto aqui como lá, os movimentos são resultado do que ele chama deinfowar, uma
guerra de narrativas plantadas para suscitar mobilizações.
Com descrições dos acontecimentos dos protestos, a cobertura da mídia sobre eles e ain-
da umembasamento acadêmico sobre os movimentos demassa, o autor dedica as partes
seguintes do livro a analisar a primeira fase das manifestações – ainda “sobre os 20 centa-
vos”, e emSão Paulo – e a segunda, quando já atraía milhões pelo Brasil inteiro. Ele alerta,
muitas vezes, para o perigo do totalitarismo que aquele modelo parecia estar gestando.
“O movimento de massa de pauta difusa, desconexa e genérica (que não é novidade
nenhuma no mundo) sempre está pedindo um poder total. Um totalitarismo. O maior
mal que a humanidade já teve de enfrentar. O poder total que pode sair de uma ma-
nifestação como essa não pode ser um poder brando, de políticos prestando contas
ou dividindo promessas com a realidade. (...) Nenhum totalitarismo surgiu senão com
movimentos difusos, exigências não pontuais, uma reforma completa e irrevogável de
tudo”, opina Morgenstern.
O autor faz ainda uma análise sobre a ação das massas na política, um histórico de al-
guns dos grupos que participaram ativamente das manifestações – como o Fora do Eixo
e a Mídia Ninja – e dedica um capítulo exclusivamente à observação da participação dos
blackblocks nos protestos.