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ESPAÇO DAS LETRAS
Tempo de crise
Michel Serres, tradução de Clóvis Marques, Editora
Bertrand Brasil, 96 páginas R$ 27,90
Para Michel Serres, devemos pensar em crise para
além dos desastres financeiros e econômicos que per-
turbam o mundo desde 2008. O filósofo afirma, en-
tão, que “a crise que hoje nos sacode, sem sombra de
dúvida, esconde e revela rupturas que transcendem
no tempo”.
Serres aborda no livro as mudanças decisivas pelas
quais a sociedade ocidental passou nos anos que se
seguiram à Segunda Guerra Mundial e analisa as alte-
rações observadas na agricultura, nos transportes, na
saúde, nas relações entre os homens e nos conflitos
mundiais.
O autor chama atenção para o fato de estarmos em um movimento de metamorfose
antropológica, cultural e de conduta, sem que, no entanto, haja mudanças nas institui-
ções. Ele argumenta que a crise não afeta apenas o mercado financeiro, o trabalho e a
indústria, mas o conjunto da sociedade: “Entendemos por que entraram recentemente
em crise: a produção agrícola e a circulação de seus produtos, o ensino, a Universidade,
em suma, a transmissão do saber e das tradições, o exército, a própria guerra, os hospi-
tais, o direito, o vínculo social, as cidades, as religiões... Em outras palavras, em vez de
falar apenas do recente desastre financeiro, mais valeria assumir a experiência, eviden-
te e global, de que o conjunto das instituições vivencia já agora uma crise que ultrapassa
em muito o alcance da história comum.”
Serres destaca que é preciso “inventar o novo” e que as palavras “retomada” ou “refor-
ma” já não fazem mais sentido, sendo necessário repensar dinâmicas culturais, sociais
e políticas.
“Tempo de crise” chega às livrarias no fim de janeiro pela Bertrand Brasil.
Michel Serres nasceu na França, em 1930. É professor da Universidade de Stanford e
membro da Academia Francesa de Letras. Autor de vários ensaios filosóficos e de his-
tória das ciências, é um dos raros filósofos contemporâneos a propor uma visão aberta
e otimista do mundo, fundada nos conhecimentos humanístico e científico, buscando
sempre aproximar ciência e cultura.
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