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ESPAÇO DAS LETRAS
Um passeio no jardim da vingança
Daniel Nonohay, Editora Talentos, 301 páginas, R$ 34,90
O juiz do trabalho de Porto Alegre, Daniel Nonohay, desperta-
rá no leitor muitos sentimentos e um verdadeiro desconforto.
Emoções que somente os escritoresmais ousados conseguem
trazer para a literatura. Entrar na narrativa de Um Passeio no
Jardim da Vingança é, sem exageros, um caminho sem volta.
Lançada pelo grupo Novo Século, a trama apresenta um anti-
-herói, que provocará distintas sensações, empatia e por que
não, raiva?
A obra é uma ficção policial futurista em um mundo no qual a
tecnologia é extremamente avançada e a capacidade de me-
mórias e aptidões humanas se amplia por meio dos implantes cibernéticos. Nesta cida-
de distópica, dividida entre zonas vigiadas e periféricas, as drogas são controladamente
liberadas.
O recurso literário utilizado em Um Passeio no Jardim da Vingançaapresenta uma linha
cronológica paralelaque já transporta o leitor para o ápice da história. “Acessei a rede
e carreguei os depoimentos e as demais provas. A película piscou, solicitando que eu
permanecesse imóvel, enquanto autenticava os documentos com base na minha leitura
biométrica. Os procedimentos eram realizados em silêncio, mas um dó menor mudo,
contínuo e tenso podia ser quase ouvido vindo do sistema.” (p.17).
O relato acima, narrado em primeira pessoa, é do advogado Ramiro, personagem prin-
cipal que não tem mais perspectivas na vida. É rico, drogado, adúltero, já não gosta
mais do trabalho, até sofrer um atentado terrorista em meio a uma audiência e quase
morrer. A trama segue com o protagonista descrevendo como foi se recuperar de dois
meses em coma e a tentativa de retomar a vida no escritório de advocacia.
Depois de ser impedido de retornar ao escritório e ter o ego ferido, Ramiro começa a
utilizar a tecnologia disponível, inclusive dois chips implantados em seu cérebro, para
conseguir o máximo de informações sobre as movimentações que eram realizadas por
seus sócios. Mesmo sabendo que o caminho era sem volta, ele não imaginava que, além
deles, outras organizações estariam envolvidas neste círculo de crimes, como uma seita
religiosa e seu perigoso pastor.
Com uma narrativa rápida e de estilo próprio, Nonohay demonstra os sentimentos e o
caráter dos personagens de forma que fica fácil associar o drama da ficção com a pró-
pria realidade, construindo uma trama atemporal. O leitor verá uma simples decisão
colocar em risco o próprio Ramiro, sua esposa, os sócios e todos aqueles que se sentiam
seguros ao redor deles.