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ESPAÇO DAS LETRAS
ESPAÇO DAS LETRAS
O lado invisível da economia - Uma visão
feminista
Katrine Marçal, Editora Alaúde, 216 páginas, R$
32,00
Considerado o Freakonomics feminista, o livro
questiona o modelo masculino do pensamento
econômico. Nele, a jornalista econômica sueca Ka-
trine Marçal explica como as bases teóricas da eco-
nomia ignoram a mulher, cujo papel era cuidar do
lar. Séculos depois, essa mesma lógica continua ex-
cluindo a mulher, que precisa fazer jornada dupla
ao gerir carreira e família. Com linguagem envol-
vente e perspicaz, e recheada de dados, a autora
explica o funcionamento do mercado baseado na
figura do homem econômico e defende que a úni-
ca solução para uma sociedade mais igualitária é
um pensamento econômico mais feminista.
Para provar seu ponto, a jornalista parte de uma
pergunta levantada por Adam Smith, pai da economia moderna: “Como você consegue
o seu jantar?”. Ao afirmar que é o interesse pessoal do açougueiro – sua vontade de lu-
crar – que faz a carne chegar à mesa, Smith se esquece de uma peça-chave na trajetória
de seu jantar: era sua mãe que fritava o bife.
Segundo Katrine, o mercado é na verdade construído sobre uma economia invisível,
já que as mulheres não começaram a trabalhar apenas em meados do século passado,
elas só mudaram de emprego.
E “se quisermos um retrato completo da economia, não podemos ignorar o que meta-
de da população faz durante metade do tempo” afirma Katrine. A autora ainda levanta
dados como os da agência de estatísticas nacionais do Canadá, que descobriu que o va-
lor do trabalho não remunerado no país variava de 30,6 a 41,4% do PIB (dependendo da
forma de medição).
Mas o livro não explora apenas o problema da mão de obra feminina, mas as bases so-
bre as quais a economia como ciência foi fundada e o que o feminismo pode fazer para
transformá-la. Se as mulheres tivessem tido a oportunidade de participar mais ativa-
mente do desenvolvimento dos modelos econômicos, a figura do “homem econômico”
poderia ser bem diferente, e, para a autora, isso explica por que a economia atual fun-
ciona muito mais para os ricos do que para os pobres, e muito mais para os homens do
que para as mulheres.
A Corrupção da Inteligência
Flávio Gordon, Editora Record, 364 páginas, R$
44,90
Diariamente, os brasileiros lidam com notícias do
desvio de milhões e bilhões de reais dos cofres pú-
blicos e assistem atônitos aos relatos, em tom de
banalidade, dos corruptos. No livro “A corrupção
da inteligência”, o antropólogo Flavio Gordon foge
da tradicional abordagem do desvirtuamento de
políticos e empresários para tratar da atuação dos
intelectuais, especialmente na Nova República,
após a ditadura militar.
Gordon defende no livro que, ao contrário da cor-
rupção político-econômica, esse tipo de corrupção
não traz benefícios para o corrupto, e na verdade,
prejudica sua inteligência, razão e moral.
“Diferentemente da outra, cujos efeitos podem
ser revertidos, as perdas, recuperadas, e os responsáveis, condenados, essa corrupção
produz estragos duradouros e, muitas vezes, irreversíveis”, explica argumentando que
o dano causado pela corrupção dos intelectuais se alastra avassaladoramente de manei-
ra ondulatória, debilitando a cultura como um todo.
Inserindo-se numa tradição de pesquisa que passa por Olavo de Carvalho, Mário Ferrei-
ra dos Santos e Raymond Aron, Gordon analisa quais são as raízes da crise que aflige a
nação e qual foi ou tem sido o papel dos intelectuais neste contexto.
Sobre o autor
Flávio Gordon nasceu em 1979, é carioca e doutor em antropologia social. Atuou como
tradutor e escritor, com artigos sobre cultura e politica publicados em diversas platafor-
mas digitais, entre elas o jornal Gazeta do Povo e o portal Senso Incomum.
Provocativamente feminista, a obra explora desde o estabelecimento da economia
como ciência até a mais recente crise financeira mundial para defender a necessidade
de uma nova abordagem para os problemas econômicos mundiais.
O livro já foi traduzido para mais de 15 idiomas. Foi um dos nomeados para o August
Prize em 2012 e em 2013 ganhou o Lagercrantzen Award por seu “estilo provocador e
pessoal, que desafia e seduz o leitor com a ousadia e segurança de seu domínio intelec-
tual”.