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ESPAÇO DAS LETRAS
ESPAÇO DAS LETRAS
A morte do diplomata: um mistério arquivado pela
ditadura
Eumano Silva, Tema Editorial, 208 páginas, R$ 35,00
No ambiente sufocante do regime militar, o diplomata bra-
sileiro Paulo Dionísio de Vasconcelos morre em circunstân-
cias misteriosas na cidade holandesa de Haia, em 1970, sem
que as autoridades tenham se empenhado em desvendar
o episódio obscuro. Essa história é contada pelo jornalista
Eumano Silva no livro “A morte do diplomata: um mistério
arquivado pela ditadura”, que traz informações inéditas
sobre o caso e o período do autoritarismo no Brasil.
Publicado pela Tema Editorial, o livro percorre a vida de
Paulo Dionísio e suas conexões com a diplomacia brasilei-
ra, na época em que o país vivia sob o comando de gene-
rais ansiosos por projetar uma imagem favorável no exterior – mesmo que internamen-
te a realidade fosse opressiva e dolorosa. É nesse contexto que o jovem vindo de Minas
Gerais projeta sua trajetória pessoal e profissional, interrompida pouco antes de com-
pletar 35 anos de idade. Com linguagem direta e substantiva, Eumano Silva lança mão
da estrutura narrativa dos livros de ficção policial para contar uma história verdadeira,
baseada em documentos e entrevistas.
Foram dois anos de trabalho para reconstituir os fatos de quase cinco décadas atrás
e montar a grande reportagem sobre um personagem à margem do fio principal dos
acontecimentos, mas que proporciona uma visão singular do cotidiano daqueles dias
atravessados pelo regime político de exceção. A família de Paulo Dionísio franqueou ao
autor do livro documentos, fotos, recortes de jornais e até mesmo o diário pessoal do
diplomata, que tinha o hábito de escrever copiosamente sobre os mais variados temas.
Mais do que isso, os familiares concederam-lhe uma procuração para ter acesso a do-
cumentos do Itamaraty relacionados ao caso. O resultado é rico em informações inédi-
tas, com a ressalva de que “foi um trabalho totalmente independente, sem nenhuma
interferência”, como sublinha Eumano. No meio do processo minucioso de pesquisa, o
autor deparou-se com documentos reveladores sobre o cenário em que a diplomacia
brasileira estava mergulhada à época.
Constatou, por exemplo, a extensão da teia de vigilância armada para acompanhar os
movimentos de Dom Helder Câmara em países estrangeiros, como se o líder católico
brasileiro, que lutava com palavras e gestos, representasse um perigo mortal para o
regime. Também apurou as iniciativas quase caricatas dos comandantes militares para
apresentar lá fora um país risonho e bem-sucedido.
O que os donos do poder não querem que você saiba
Eduardo Moreira, Alaúde Editora,136 páginas, R$ 24,00
Provocador e ousado, O que os donos do poder não que-
rem que você saiba é um desabafo de quem entende as
estruturas e os jogos de poder. Com experiência de mais
de 15 anos no mercado financeiro e eleito este ano um
dos três melhores economistas do Brasil pela revista In-
vestidor Institucional, o autor Eduardo Moreira descre-
ve os bastidores da economia, oferecendo ferramentas
para que o leitor aprenda sobre finanças de forma didá-
tica e objetiva, e assim possa se tornar agente do pró-
prio dinheiro ao atuar sobre as estruturas financeiras de
modo ativo.
“É exatamente esse caminho que convido o leitor a fa-
zer comigo. Ao final, independentemente da profissão que você tenha, garanto que
saberá mais sobre finanças que o gerente do banco que te atende. Isso valerá um belo
dinheiro a mais em sua conta todos os anos”, afirma o autor.
A obra é dividida em seis capítulos. Nos dois primeiros, Eduardo explica o funcionamen-
to de bancos e corretoras de valores. Assim, auxilia o leitor na compreensão, por exem-
plo, das diferenças entre títulos de capitalização e ações. Nos demais capítulos, o autor
aborda as desigualdades econômicas e sociais geradas pelo modelo econômico e polí-
tico do capitalismo. Além disso, discorre sobre um modelo ideal de governo com ideias
a respeito de como tornar o sistema mais eficiente e justo. “O livro mostra a diferença
entre percepção e realidade no mundo capitalista”, explica o autor.
De forma esclarecedora, o autor desvenda as estruturas que regem o poder e denuncia
as maneiras pelas quais alguns poucos privilegiados influenciam opiniões para manter a
ordem vigente e preservar seus interesses.
Autor de outra obra emblemática sobre o período ditatorial no Brasil – Operação Ara-
guaia: os arquivos secretos da guerrilha –, Eumano Silva oferece aos leitores essa nova
incursão no livro-reportagem, com a marca do rigor jornalístico e a ambição do pesqui-
sador reconhecido pelo conhecimento sobre o tema. A morte do diplomata: um misté-
rio arquivado pela ditadura é leitura envolvente e que se acompanha com a respiração
suspensa. É ainda o encontro de uma tragédia pessoal com os descaminhos da nação
brasileira.