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ESPAÇO DAS LETRAS
ESPAÇO DAS LETRAS
A mente imprudente
Mark Lilla, Editora Record, 196 páginas, R$39,90
Ao longo da história, certos intelectuais recebe-
ram de braços abertos regimes totalitários fascis-
tas e comunistas. Esta é a premissa do historiador
americano Mark Lilla no livro “A mente impru-
dente”. Em forma de ensaios, Lilla traça o perfil
filosófico-político de seis pensadores do século
XX, que, na visão do autor, se deixaram levar por
ideologias e fecharam os olhos ao autoritarismo,
à brutalidade e ao terrorismo de Estado.
O historiador conta a trajetória do filósofo ale-
mão Martin Heidegger e sua entrada no partido
nazista em maio de 1933, ainda que hoje já se sai-
ba que pelo menos dois anos antes ele já tinha
manifestado apoio a Hitler. A decisão de seguir
o nazismo complicou a vida de seu amigo Karl
Jaspers e de Hannah Arendt, com quem Heidegger viveu um romance.
“Jaspers era um amigo, Arendt fora sua amante, e ambos admiravam Heidegger
como um pensador que, segundo acreditavam, tinha revivido sozinho o autêntico
ato de filosofar. Agora eles tinham de se perguntar se sua decisão política refletia
apenas uma fraqueza de caráter ou se havia sido preparada pelo que Arendt chama-
ria mais tarde de seu “pensamento apaixonado”. Neste último caso, significaria que
seu próprio apego intelectual/erótico a ele como pensador estava comprometido?
Acaso haviam se equivocado apenas a respeito de Heidegger ou também sobre a
filosofia e sua relação com a realidade política?”, indaga o autor.
Assim como Heidegger, o filósofo alemão Carlos Schmitt apoiou publicamente os
nazistas nos primeiros dias do Terceiro Reich. Lilla analisa também como Walter
Benjamin, considerado um dos intelectuais mais importantes do século XX, expres-
sa em suas cartas que era um pensador teologicamente inspirado e politicamente
instável. Ele conta que nos anos 30, Benjamin se mantivera calado sobre “processos
exemplares” em Moscou e ao longo da década não foi capaz de criticar Stalin publi-
camente, nem quando a militante e diretora teatral Asja Lacis, com quem se envol-
veu amorosamente, foi levada a um gulag, campo de trabalho forçado para onde
iam “inimigos” do Estado.
O historiador relata ainda aspectos controversos na trajetória do filósofo russo Ale-
xandre Kojève, do franco-argelino Jacques Derrida e de Michel Foucalt, que se de-
Justiça seja feita
Ricardo Viveiros, Editora SESI-SP, 240 páginas, R$ 68,00
O traz a biografia do ex-presidente do STF, Sydney San-
ches. Filho de ferroviário nascido na pequena cidade de
Rincão, interior de São Paulo, Sydney Sanches começou
a trabalhar aos 11 anos de idade como office boy no car-
tório local. Em 1984, aos 51 anos, foi nomeado ministro
do Supremo Tribunal Federal (STF). O percurso desse
menino de família simples que chegou à presidência
da mais alta Corte do País, cargo ocupado entre 1991 e
1993, é narrado, numa linguagem agradável e envolven-
te, pelo escritor e jornalista Ricardo Viveiros.
Já na apresentação do livro, Viveiros se ocupa de es-
clarecer qual o fio condutor que orientou seu trabalho:
“Aqui está contada a trajetória de um homem correto,
pleno de boa vontade e sempre determinado a olhar o
próximo além de si mesmo. Alguém que observa a vida, reconhece a felicidade de exis-
tir e, acima de tudo, busca ser útil à sociedade e ao País”. O conhecimento, a dedicação
e o caráter do magistrado, que o autor vai revelando ao longo das páginas com base
em histórias ouvidas do biografado e de dezenas de pessoas que com ele conviveram,
transformaram Sydney Sanches numa referência e inspiração para seus pares.
Não à toa o prefácio escrito por Ignácio de Loyola Brandão, que conviveu na adolescên-
cia com Sydney Sanches (à época apelidado de Cide), em Araraquara, intitula-se “Um
exemplo para juízes”.
No texto de abertura, Loyola conta passagens da juventude que auxiliam a entender o
perfil compenetrado, determinado e responsável de Sydney Sanches que seriam suas
marcas ao longo de toda a sua carreira de magistrado. “O que me encantou foi este
livro ter sido escrito para ser lido com prazer”, assinala o romancista, ressaltando que
“o juridiquês não é utilizado em uma só página”. Loyola também destaca a permanente
preocupação do biografado em não cometer erros ou injustiças.
clarava discípulo do Marquês de Sade e se divertia com as gravuras de Goya retra-
tando a carnificina da guerra:
“Assistimos ao processo mediante o qual uma obsessão intelectual com a transgres-
são culminou numa perigosa dança com a morte”, afirma.
“A mente imprudente” chega às livrarias neste mês de outubro pela Editora Record.