Revista Ações Legais - page 44-45

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falta de tomada de medidas adequadas por parte da escola também configura uma for-
ma de participação da prática. “A omissão deve ser tão combatida quanto a ação censu-
rável.”
Para a psicopedagoga e professora de Psicologia da PUC-PR Evelise Portilho, o bullying-
tem muito a ver com as diferenças e visa desmerecer o outro. A maneira de se referir à
pessoa é perversa, inibe e machuca. É toda abordagem que deixa a vítima acuada e fere
sua condição de pessoa, assim como seu direito de se expor e de se colocar. Ela esclare-
ce que o bullying é diferente de uma implicância, um xingamento ou de uma brincadeira
maldosa, atitudes que não impedem o outro de continuar agindo.
Ainda citando como exemplo a história de João, a mãe relata que, a partir das agressões
sofridas, o filho pedia a todo momento para sair do colégio, tornou-se uma criança mais
agressiva e estressada em casa e não conseguia dormir direito durante a noite. “Além
disso, o desempenho das últimas provas realizadas na escola foi muito ruim e meu filho
não tinha motivação para nada. Hoje, em outra instituição de ensino, o João é uma crian-
ça que tem muitos amigos, que se destaca na turma como um bom aluno e que se sente
parte do ambiente. Ele está feliz”, afirma. Apesar da melhora, a mãe de João revela que
tocar no assunto ainda faz mal ao filho e que ela carrega até hoje a culpa de não ter per-
cebido antes a situação.
Ausência de limites
Evelise sustenta que o bullying está relacionado principalmente a valores de uma socieda-
de que privilegia uns em detrimento de outros e também à importância da conquista de
espaço nesse contexto. A psicopedagoga vai além e afirma que o problema também tem
suas origens em uma sociedade sem limites, em que a escola e a família vêm perdendo
seu papel e sua identidade.
“Pais e professores estão muito passivos diante das atitudes e das relações de seus filhos
e alunos”, destaca a psicopedagoga. “Na sala de aula, por exemplo, o professor sente-se
cada vez mais acuado e impedido de repreender um aluno, devido à pressão que sofre
por parte das famílias e de outros segmentos da sociedade. E essa pressão é sentida pe-
los pais também”. Segundo Evelise, os adultos não podem ficar apáticos e têm a obriga-
ção de interferir quando necessário, com o objetivo de educar. “Afinal, esse é o papel da
escola e da família.”
Além da questão cultural, porém, Evelise ressalta que a causa do problema pode estar
ligada ao caráter do sujeito ou ao ambiente em que está inserido: “Os valores da cultura
institucional da casa e do trabalho, por exemplo, podem levar uma pessoa ou um grupo
a agir de maneira agressiva em relação ao outro”, explica.
Nesse contexto, de acordo com Evelise, a intervenção por parte dos adultos tem que
acontecer no momento exato em que o bullying é praticado, caso contrário a situação
transforma-se em uma “bola de neve”. “Quando se adotam atitudes permissivas, as con-
sequências para quem sofre a agressão podem ser graves e marcar a vida da pessoa para
sempre”, ressalta. Ainda segundo a psicopedagoga, há casos em que crianças ou adoles-
centes tendem a se isolar, tornam-se mais agressivos em casa, não querem sair e não têm
interesse de se relacionar com ninguém. Ela acrescenta que muitas vezes o aluno tem
dificuldade de aprendizagem e, por esse motivo, é agredido pelos colegas e até pelos
próprios professores. “Ele sente-se oprimido, incapaz e no futuro pode apresentar difi-
culdades no desenvolvimento profissional”, aponta.
Diálogo para mudar
Para combater a prática do bullying, Eveli-
se argumenta que é fundamental que a fa-
mília, a escola e a sociedade falem sobre o
assunto com as crianças e os adolescentes.
Para ela, é preciso dialogar, interferir e os
pais têm de acompanhar os filhos, serem
presentes, interessarem-se pelo que pen-
sam e posicionarem-se junto com eles dian-
te da realidade. “Como posso educar, se
não promovo reflexões sobre o tema?”, questiona. “A transformação não vem do nada.”
Murillo Digiácomo propõe o mesmo e complementa que é preciso esclarecer, desde o
início, que o fato de ser vítima de bullying não é motivo de vergonha e que a única forma
de resolver o problema é deixar que a situação venha à tona. Ele reforça que para isso é
fundamental o desenvolvimento de uma relação de proximidade e confiança entre pais e
filhos e educadores e educandos.
A diretora pedagógica GiseleMan-
tovani Pinheiro desenvolve um
programa de combate ao bullying
na escola onde trabalha, em Curi-
tiba. A iniciativa começou há cin-
co anos, com o objetivo de aca-
bar com as situações que vinham
ocorrendo na unidade. “Apesar
de se tratarem de casos aparente-
“Pais e professores estão
muito passivos diante das
atitudes e das relações de
seus filhos e alunos”
PROGRAMA
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